terça-feira, 27 de setembro de 2011

Das "classes sociais"

Hoje no estágio estava conversando a respeito das "classes sociais" (antes que me perguntem, não sei como cheguei nessa conversa), tentando definir qual o critério utilizado pelos órgãos do governo para se atribuir a determinada pessoa ou família a classe B e não C, entre outras. Conversando sobre o assunto eu me lembrei da divisão tradicional de classes era "classe alta", "classe média" e "classe baixa", o que soa até pejorativo.
Pra não ter problema com esse negócio do politicamente correto, inventou-se que existe uma "classe média alta" e "classe média baixa", o que criou problemas maiores ainda. Sim, porque, de acordo com essa definição você poderia ser:

Classe alta = Rico
Classe média alta = Quase Rico
Classe média média =Meio termo entre quase rico e quase pobre.
Classe média baixa = Quase pobre.
Classe Baixa = Pobre.


Depois, criou-se o sistema de letras, dividindo as classes em A, B, C, D, E, partindo de alguns parâmetros - assaz duvidosos - como nível de escolaridade, renda per capita, taxa de fecundidade etc. Penso eu que o uso desses critérios, apesar da indubitável boa intenção, não tem nada de objetivo. Isto porque é tradição em nosso país a chamada "maquiagem social".
O índice de escolaridade, por exemplo, corresponde a uma realidade formal, pois os alunos estão matriculados, concluíram o ensino fundamental, o ensino médio, todavia o que se esconde por trás dos números é que a maioria continua analfabeta - total e funcional.
Com as classes é a mesma coisa: a realidade fica sufragada em meio a tantos índices, a exemplo do número de televisões em uma residência. Aliás, quantos às análises atuais, já se criou um sistema que divide as classes em A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E, conforme o Critério de Classificação Econômica Brasil. Sério. Como seria essa divisão? A meu ver, é isso aqui:

A1 = Muito muito rico.
A2 = Muito rico.
B1 = Rico
B2 = Quase rico
C1= Classe média média.
C2 = Quase pobre.
D = Pobre.
E = Miserável

Os critérios vão desde o número de banheiros em casa, até o de empregadas mensalistas (o imperativo do politicamente correto não entrou aqui, consta lá empregadA mensalista mesmo).
Partindo do pressuposto de que tenho uma imaginação que foge aos padrões do homem médio, resolvi, sem usar de nenhum critério objetivo, mas partindo de observações empírico-sociológicas, criar uma classificação própria, que traz definições interessantes e estereotipadas -admito- sobre as tais classes no país, se ainda for possível falar nesses termos. A divisão e correlata definição é a seguinte:

M= Multimilionários.Com exceção de Eike Batista e um certo pastor da Igreja Universal, são quase todos políticos brasileiros. Detém os meios de produção com o suor do nosso trabalho. Tem contas espalhadas em pelo menos 10 paraísos fiscais, patrimônio de milhões de dólares, muitos imóveis, joias, carros de luxo. Possuem tudo o que o dinheiro pode comprar inclusive sentenças, acórdãos e eventualmente até estados da federação. Acreditam no poder e na força do patrimônio público e, por isso mesmo, carregam para si. Criam leis, Medidas Provisórias, votam Emendas Constitucionais, decidem processos. Comandam a Justiça, brincam com as leis e, não raro, preocupam-se com a imagem, sobretudo de dois em dois anos. Vivem bem, confortáveis e do alto de suas mansões observam seus filhos brincarem com o que puderam ter e sentem-se orgulhosos, pois deram a eles o que não tiveram. Os filhos poderão estudar no exterior.Não são presos, e se o forem não usarão algemas. Governam o país.

R = Ricos. Em geral, tem relações com os multimilionários. Muitos são artistas globais, pastores e jogadores de futebol - não enquadrados nos multimilionários. Vivem bem, confortáveis, estão acima da média. A exemplo dos multimilionários, alguns auferem renda com o suor do nosso trabalho, sob a forma de dízimos. Outros são viciados em drogas e, coincidência, são considerados "ídolos". Não vivem como pessoas normais. Em geral são excêntricos, egoístas e bonitos. Muitos querem se casar com representantes dos Multimilionários, em busca de melhores condições de vida. Muitos querem participar de eleições, com o mesmo objetivo. Muitos se suicidam. Parecem viver em um mundo paralelo, com mais ostentação do que o mundo dos multimilionários: não sabem o que é trabalho de verdade, tem medo de andar de ônibus, odeiam pobres, mas se precisam destes, passam a "amar". Tudo o que possuem é desejado pela classe média: o carro do ano, a festa do ano, a plástica do ano. Não pensam no que dizem ou fazem.

C = Classe média. Tudo tem a medida média: revolta média, indignação média, salário médio, escolas médias, saúde média. Tudo médio. Pagam impostos e esperam pela redução do IPI para comprarem mais eletrodomésticos. Frequentam Shoppings. Vão aos cinemas. Trabalham, em geral, para os ricos. Pagam mais impostos. Detém uma parcela de conhecimento maior que a dos ricos acima citados, mas não o utilizam. Contentam-se com uma vida média e uma justiça média. Sentem a inflação. Sustentam o país. Vivem preocupados, na incerteza do poder de compra de amanhã. São consumistas, vaidosos. Sonham com a vida dos ricos e não acreditam no potencial de chegarem aos multimilionários. Muitos querem se casar com os ricos em busca de melhores condições de vida. Muitos chegam a ser ricos através do Big Brother. Outros tantos através do Youtube. Reclamam dos preços nos supermercados, nos bares, nas lojas, mas mantém a indignação presa em sua mente média. Omissos, lenientes e acomodados. Têm plano de saúde, estudam em escola particular, são inadimplentes no cartão de crédito, compram coisas inúteis. Conhecem todos os esquemas dos multimilionários políticos, mas nada fazem. Esperam que os ricos façam - mas não farão. Espera que a justiça faça. Espera que a polícia faça. São advogados, médicos, engenheiros, arquitetos, jornalistas. Conformados com a vida média do país e a sua própria. Detém conhecimento, mas não sabedoria. Detém força, mas não união. São aterrorizados pela ideia nefasta de se rebaixarem à classe citada logo adiante. Pagam mais impostos.

P = Pobres. Sustentam o país. Trabalham muito, sempre. Utilizam os serviços públicos do governo: escola pública, sistema público de saúde, defensoria pública, transporte público.São secretários, faxineiras, técnicos, eletricistas, bombeiros, policiais. Não valorizados. Em vez de indignação, tolerância. Muitos são analfabetos. Moram onde podem, e de aluguel. Pagam impostos. Acordam cedo, em geral 05:30 da manhã. Poderiam se aliar à classe média, mas ela não se mistura com eles. Eles também preferem deixar os problemas de lado e fazer um pagode. Sonham com coisas não públicas: a casa própria, plano de saúde, escola particular. Observam a vida dos multimilionários pela Revista Caras. Gostariam de ser médios e fazem piadas com a pobreza. Os médios se acham tão superiores a eles quanto os ricos em relação a todo mundo. Pegam três conduções, em média. Os filhos querem ser jogadores de futebol, as meninas modelos. Vivem mal.

M² = Miseráveis. Não tem acesso a educação. Tem em média 5 a 8 filhos. Eles frequentam a escola que fica a 5 km de casa. Na escola não tem: professor, material escolar, livros, fardamento, merenda. Recebem o bolsa-família. Em geral são lavradores ou operários. Moram em qualquer lugar. Alguns embaixo da ponte, outros em uma casa de taipa. São invisíveis para as demais classes. Não sonham. Se sonhassem preferiam que fosse com comida, artigo raro hoje em dia. Trabalham de sol a sol. Não sabem o que é "lazer". Seus filhos não tiveram infância e os filhos dos filhos deles também não terão.Alguns vão pra outro local e conseguem ser pobres. A expectativa de vida é baixa. O que tem de pobreza, tem de fé. Alguns cometem crimes e estes sim, serão algemados, sufocados, torturados, assassinados.  Multimilionários tiram fotos com seus filhos nos braços para a campanha eleitoral. Sobrevivem.

P.S. Qualquer semelhança com a realidade pode não ser mera coincidência.
P.S.². Partindo do pressuposto de que os últimos serão os primeiros, e de que os primeiros serão os últimos, fica fácil saber quem são os verdadeiros miseráveis do país.