quarta-feira, 20 de março de 2013

Constatações do meu mundo.


1. Abelhas fazem mel para que os meninos se lambuzem de doçura.
2. O beijo apaixonado é uma transfusão de almas.
3. Estrelas são pensamentos bons que subiram ao céu.
4. Músicas são cartas de Deus para a humanidade; flores são bilhetes.
5. Quando chove a vida se renova.
6. A luz pode até ser a do sol, mas o brilho é da lua, único e fascinante.
7. As preces não nos aproximam de Deus, elas nos aproximam de nós.
8. A gravidade não é a força que nos faz cair ao chão, mas sim o que que nos permite ficar de pé.
9. Ser sincero e honesto com os outros e com você mesmo é uma das coisas que mais exigem coragem.
10. As coisas que não tem preço são justamente as que valem mais.

domingo, 17 de março de 2013

Um menino pobre. Um menino rico.

Ele era um menino pobre.

Em sua infância paupérrima e desesperada nunca soube, na prática, o que era um videogame. Apenas sabia o que de longe se anunciava nas entradas das lojas e nas propagandas da TV, mas desde cedo entendeu que o valor da mercadoria era quase o montante dos salários dos pais, já tão ínfimos. Mal tinha comida em casa todos os dias. Não os culpava. Via o esforço diário, via o suor na testa, via a falta de ambos durante o dia. "A vida não é fácil", dizia a mãe, repetindo a ladainha diária.

Não, não era.

Tinha que estudar e ser alguém na vida. Quem sabe chegar a ser doutor que nem o filho da vizinha, que agora só aparecia no subúrbio pra mostrar a nova moto (e na verdade não era mais que um técnico em qualquer coisa, que se gabava do que podia e não podia ter). Estudar era salvação e deleite: estudava as imagens dos livros de escola pública, usados por mais de mil alunos antes dele, e sabia de coisas de outros mundos. Se não sabia, imaginava. Se não imaginava, sonhava. E assim vivia.

Era um menino tão pobre, mas tão pobre, que nunca andara de carro. Nunca. Só os via passar. No entanto, conhecia todas as marchas e manhas do ônibus. Sabia qual pegar para qualquer canto da cidade. Era um menino esperto. Outro dia espantou a vizinha fazendo o cálculo de um troco e lendo um pedaço do jornal. Falava sobre política, algo assim que ninguém entende. Mas fingiu entender bem. Estufou o peito. E o povo da comunidade foi ao delírio.

Era tão pobre que já teve todo o tipo de vermes existentes na face da terra. Culpa da terra em frente à casa. A mãe sempre reclamava dizendo que só tinha "porcaria" no chão. Mas era lá que brincava de ser melhor. Era lá que galopava desejos indomáveis como corcéis de fogo e era lá que podia se imaginar num lugar diferente, que não tivesse aquele mau cheiro insuportável de sonho destruído.

Não entendia muito de ciências ou de geografia, mas sabia caçar gafanhoto como ninguém! Também aprendeu a entender a lua cheia e saber quando ia chover. Sua avó ensinou. Um dia ela morreu mas ele nem soube: a vida já era por demais triste naquele lugar e seus pais não achavam certo que o mundo lhe tirasse uma das únicas coisas boas que tinha. Não contaram e ele acreditou que a avó estivesse doente das pernas.

Era um menino tão pobre que não tinha livros. Só os da escola, que recebia por causa de um programa de governo e que, via de regra, ninguém fazia muita questão. Sua maior diversão ao receber o livro da série correspondente era justamente ler os textos que estavam na parte de português, ainda que não tivesse uma leitura correta de todos os pontos e vírgulas.

Um dia perguntou à mãe o que significava uma palavra no livro. Mas ela não sabia. De fato nunca ouvira falar em "Dádiva" nenhuma. Talvez, se frequentasse a igreja. E o menino colocou esse nome na cachorra, que antes quase se chamara "xulinha".

A maior ambição desse menino pobre era ter um armário. Sim, um armário desses que todo dia estão em queima de estoque nas lojas de eletrodomésticos. Possuía, na verdade, um projeto de guarda-roupa que desabou e ficou inclinado. Não tinha portas e as coisas se amontoavam na diagonal, o que criava cada vez mas bagunça. Um dia compraria um armário para si e para os pais.

O sonho deste menino era morar numa novela. A velha televisão mostrava lugares maravilhosos e casas luxuosas, com pessoas sorrindo pra lá e pra cá. Em nada se pareciam com o barraco onde morava. E tinha tantos armários! Uma vez a mãe disse que pra conseguir tudo isso ele tinha que sair dali, tinha que deixá-la e deixar também o pai, e ouviu desse menino pobre:
- Então não vou. De que adianta ter tanto armário se não tiver vocês pra colocar roupa dentro?
Não entendeu porque a mãe chorou e, tão logo ficou envergonhado, saiu pra se sujar de terra.

Era um menino muito rico.
Uma dádiva.






sexta-feira, 8 de março de 2013

Ah, essas mulheres...

As mulheres são, com toda a certeza, o ser mais belo que já andou sobre a terra. Não me refiro aqui, como alguns poderiam pensar, aos peitos, bundas, coxas e demais curvas que inspiram desejo por onde passam.  Não. A beleza da mulher vai muito, muito além disso: encontra-se dentro do seu olhar. Um homem pode olhá-la com esmero enquanto ela está despida, mas se não prestar atenção naqueles olhos femininos, se não se deixar levar por aquela íris ansiosa, terá deixado passar toda a beleza.

E como são corajosas essas mulheres! Como elas lutam! Dia a dia, mês a mês, pelos sonhos que são mais dos outros do que delas próprias. Como enfrentam com notável sabedoria o preconceito, as ironias, os salários mais baixos do que de alguns homens, os tabus, os abusos. Como conseguem carregar em seus braços não o peso de uma criança, mas o peso do mundo, o peso de todos os problemas juntos, e ainda sorrir com graça e leveza durante todo o tempo!

E como são frágeis essas mulheres, diriam uns. Choram por tudo, diriam outros. Declaram-se, descabelam-se, sofrem. Mas eu digo a vocês, e com conhecimento de causa: COMO SÃO FORTES ESSAS MULHERES! Como conseguem ser tão transparentes, tão honestas, tão sinceras em suas mentiras sobre o sentimento que fingem não ter. São como borboletas coloridas: alguns dizem que são presas fáceis porque chamam atenção, porque se mostram demais, mas eu não posso deixar de pensar que na verdade as mulheres são como borboletas porque tem asas destemidas.

Como se doam as mulheres! Doam-se como roupas velhas destinadas a um brechó, como sapatos sem sola. Mas o valor dessas mulheres que se doam, que se entregam sem nada pedir em contrapartida, nem em quilates pode ser mensurado.

E como sabem amar! Quando amam, quando amam de verdade, não entendem de limites ou empecilhos. Não sabem o que é isso. Simplesmente abrem suas asas de borboleta e deixam-se levar pelo que sentem, pelo que dá sentido a suas vidas. Mas se não for bom, se não fizer bem, se não der certo, como se recuperam! Encolhem suas asinhas, fecham-se por um tempo. Mas logo refletem, revivem e voam novamente porque sabem que amor é a única coisa que vale a pena experimentar.

E somente elas, somente as mulheres, conseguem ser tão desprendidas de seu próprio corpo e de suas vidas a ponto de abandonar tudo para gerar outra vida. E como conseguem sentir as dores dilacerantes do parto, com um sorriso no rosto e lágrimas de felicidade nos olhos. E depois que os filhos crescem, vem as preocupações e todas percebem que esses desprendimento é pra vida toda.

Aliás, nenhum ser, nenhum, consegue lidar com tantas coisas ao mesmo tempo, consegue dar conta de tantos problemas e dos seus próprios com tanta maestria. Claro que tudo envolve uma certa confusão, alguns fios de cabelo arrancados, de vez em quando uma certa dose de raiva e lágrima, mas depois todos esses problemas se resolvem.

E choramos enquanto rimos, e ficamos com raiva dizendo que está tudo bem, e olhamos pro guarda-roupa entupido como se olhássemos para um deserto ermo. Sim, ficamos de TPM, temos alterações de humor, necessitamos de chocolate em doses homeopáticas quase todo dia, somos sensíveis, carinhosas, generosas e sabemos aliviar dores como ninguém mais consegue.

Alguns homens nos impuseram o rótulo de contraditórias.

Mas para mim todas as mulheres querem se sentir um pouco de tudo, querem ser todas ao mesmo tempo. E no fim das contas, onde homens veem contradição, eu vejo completude.

Um feliz dia da mulher a todos esses anjos femininos que me inspiram dia a dia.