domingo, 9 de março de 2014

O Dia da Mulher e a barriga.

Não tinha escrito nada sobre o Dia da Mulher. Depois do carnaval, todavia, tive vontade de escrever sobre um determinado assunto e vi que dá pra relacionar ambos. O assunto é "Barrigas".

Durante o carnaval, Ivete Sangalo foi perguntada - mais vezes do que o recomendável - se estava grávida, devido a uma saliência localizada em seu tronco, também conhecida como "barriga". Durante sua passagem pelo circuito do carnaval, apresentadores de televisão encheram a cantora de perguntas sobre uma possível gravidez. E a resposta da artista surpreendeu muita gente: "É uma barriga de mulher que tem barriga mesmo.".

Difícil encontrar uma mulher que esteja satisfeita com essa parte da anatomia. Eu, particularmente, há um certo tempo, empreendi uma dieta de um dia com o objetivo de perder a pretensa barriga. Quase todas nós nos olhamos no espelho das academias, dos provadores de loja e, frustradas, vemos a barriguinha aparecendo. Ou "pneuzinhos". A gente come fruta, bebe mais água, usa faixas apertadíssimas e tenta fazer abdominais para tentar diminuir a barriga de todo jeito.

Por vezes não tem qualquer relação com a saúde. Quem pensa em ficar sem barriga apenas porque é saudável? Aliás, quem disse que o saudável é não ter barriga nenhuma, apenas uma pele que recobre os músculos do abdômen?

A relação entre barriga - ou a falta dela - e e beleza é tão forte que os publicitários já perceberam o quanto tem de apelar para a vaidade feminina. Ir ao banheiro com regularidade é bom para a saúde, certo? Mas você só vai tomar Activia até dizer chega se o inchaço causado pela prisão de ventre te deixar com uma barriga incômoda. O raciocínio é exatamente este.

Vivemos num mundo em que nossos ídolos, nossas atrizes favoritas ou cantoras possuem a barriga mínima. Experimente uma passeada por sites fúteis (que eu aprecio, devo admitir) e observe quantas mulheres possuem uma barriga minimamente saliente. Nenhuma delas. Até as que são mais gordinhas providenciam uma lipo, porque dá pra ter o braço, a coxa ou a perna grandes, mas barriga, jamais! E esse universo de pessoas sem barriga nos faz pensar de maneira absolutamente errada que o normal é não ter barriga. Até as manchetes ajudam nisso: em meio a dezenas e dezenas de notícias do tipo "Gracyanne Barbosa mostra barriga sarada na Sapucaí" surge um escândalo mais ou menos assim "Ivete Sangalo é vista com barriga saliente em Salvador".

Meu Deus! Ivete Sangalo tem barriga? Não, não pode ser! Ela só pode estar grávida! - a imprensa estúpida e subalterna de idiotices pensa e proclama por aí.

Talvez por isso a resposta dela tenha deixado os apresentadores tão desconfortáveis, ainda mais pelo jeito debochado da cantora, que num tom de brincadeira, mas visivelmente "retada", perguntou a Casemiro Neto se foi ele que "a comeu".

Apesar de a obesidade crescer assustadoramente no país, a preocupação com a "barriguinha" beira o absurdo. A busca pela saúde - e por uma alimentação saudável, atividades físicas regulares e mente descansada - deveria ser a causa que está por trás de toda barriga "sequinha", "chapada", "sarada" ou "negativa". A pretensa barriga musculosa deveria ser apenas a consequência de uma vida saudável e não o principal motivo de cirurgias plásticas e procedimentos tão invasivos quanto.

Enquanto pensamos que tudo não passa de vaidade, apenas, e utilizamos o pretexto da saúde, adolescentes vomitam o almoço porque tem o assustador medo de engordarem e não serem mais aceitas em seus círculos de amigos. Tudo porque acreditam que serão tratadas como as famosas: "Olha, Fulana tem barriga! Meu Deus! Que catástrofe!".

No Dia da Mulher as pessoas deveriam refletir sobre isso. Deveriam deixar que as mulheres tenham sua própria barriga e possam dizer que tem barriga mesmo, como Ivete fez. As mulheres deveriam ter o direito de exibirem suas "barrigas positivas" por aí, ainda que a positividade delas não seja causada por um bebê.

É por isso que eu mudei meu padrão de beleza. Em vez de Gracyanne Barbosa, Panicats e Top Models, eu agora vou me espelhar em Vênus de Milo, de Botticelli. Se você reparar bem, ela tem uma certa salienciazinha ali. Mas ela é uma deusa, assim como toda mulher.