O momento do vestibular, ou agora do Enem, é, sem dúvida, um momento de tensão para todos (eu disse, TODOS) os vestibulandos. Já passei dessa fase há muito tempo (graças a Deus), mas ontem estava me lembrando de quando prestei vestibular pela primeira vez pra valer. Tenho certeza que várias dessas coisas já aconteceram com você (ou irão acontecer).
A primeira coisa que sempre acontece quando você vai fazer prova do vestibular é checar umas 1.000.000 de vezes se seu nome está aparecendo naquela paradinha do cartão informativo. Você olha aquela po*** todo santo dia, com medo de que algum ser maligno das trevas de repente tire seu nome do sistema e você não consiga fazer sua prova.
O medo de perder a prova também faz a gente perder a noção também...Na paradinha do cartão informativo tá dizendo "Os portões serão abertos às 07:30h e permanecerão abertos até as 08:00h". Você sai de casa 06:00h!!! Não importa se a sua casa fica a 500m do local de prova, você estará lá às 06:00h e o mais interessante é que outros malucos também estarão! Você vai ter que esperar uma hora e meia pra entrar na maldita escola onde você vai fazer a prova....O que fazer pra esperar?
Enquanto espera o portão abrir você fica conversando com a pessoa da sua família que tá ali te dando apoio. "A pessoa", no singular, é modo de expressão, porque com certeza já fizeram um mutirão, uma caravana de gente (tipos aquelas do programa do Sílvio Santos) pra ficar ali com você esperando o portão abrir...sua avó, seus primos que já passaram no vestibular e ficam tirando sarro, sua mãe que fica mandando você tirar aquela remela do olho (já que acordou muito cedo) e seu pai que não cansa de dar incentivos do tipo: "Olha lá, hein?? Não vai vacilar"
Realmente, um incentivo muito grande para quem já está se cagando de medo da droga da prova.
O pior é que nessa hora você até que tenta lembrar de alguma coisa dos assuntos, mas na sua cabeça não vem nada....NADA! O desepero começa a bater, você começa a pensar que não vai lembrar nunca mais de nada e ficar burro até morrer, quando vem o seu melhor amigo, colega de sala e faz A MELHOR PERGUNTA PRA UM VESTIBULANDO: E aí? Estudou tudo????
Na hora você quer mandar ele tomar naquele lugar, ir pra PQP, mas não pode. Por que? Porque ele é seu amigo. Mas aí você começa a pensar se realmente estudou tudo: "Será que vai cair números complexos mesmo???? Nossa, não li Viva o Povo..MEU DEUS!". Você simplesmente olha pra ele e diz: "Rapaz, estudei.....Tamo aí...".
E aí ele faz a segunda melhor pergunta: TÁ TRANQUILO?
O QUEEE? Tranquila tá a sua mãe! Eu vou fazer uma prova e essa não é uma prova qualquer que eu posso pescar e etc não! Essa prova vai decidir meu futuro, car****!
E você responde: "Tranquilo"
As pessoas começam a se aglomerar, as conversas começam a surgir, você começa a ficar mais e mais nervoso e pensa " eu devia ter trazido algo pra ler, pra reler, rereler, comer...sei lá".
Mas não se preocupe..Sua mãe com certeza vai levar ou vai mandar um lanche pra você. Só que da mesma forma que a gente perde a noção do horário nossas mães perdem a noção de quantidade.
Parece que elas fazem uma marmita pra um mês no HAITI! Você olha para aquele saco plástico entupido de coisa e fala: que porra é essa????? Tem de tudo. E outra: quem disse que no vestibular a gente tem que comer barra de cereal???????? Por que??? Quem proibiu de comer Bono??? Aí na sacola que sua mãe fez tem umas 5 barrinhas dessa, um sanduíche, todynho, um chocolate, biscoito... Juro por Deus que na vez que eu fiz vestibular um cara tirou da sacola um quilo de acerola!!!!!!! Como assim? Você não vai ter tempo de comer e pior que isso: você tem que rezar para não te fazer mal, porque se a dor de barriga vier, ela vai te pegar na hora da prova...não é antes, nem depois, É NA HORA!!!
A gente começa a ficar meio doido, os portões vão abrir? Parece que sim. Vem vindo o brotherzinho que abre o portão. As pessoas se aglomeram na frente como se fossem comprar os últimos ingressos da final do brasileirão e entram correndo. Que merda! O portão abriu mas a prova só começa meia hora depois!!! Os malucos já estão lá sentados na sala, esperando a prova chegar. Aí você resolve entrar.
Antes de você entrar no colégio sua mãe, avó ou outro ente querido te entrega um pequeno kit de ajuda espiritual: uma vela de 7 dias, um santinho de Santo Expedito (o santo das causas impossíveis), um terço, um orixá (já vi aqui em Salvador), fósforo pra acender a vela e uma imagem de Nossa Senhora. A mesa que você vai fazer a prova parece um altar ecumênico. A porra da vela pesa uns 30 kg. Você tem medo de pegar fogo na sua prova. É uma confusão.
Ma, enfim, santo é santo e alguém rezou por você pra dar tudo certo. Você vai ter que fazer o esforço de levar seu kit pra lá. E você leva.
Quando você vai entrando no lugar de realização da prova (que geralmente é uma escola pública) você pensa que alguém jogou uma bomba naquela bagaça ali. Sempre tem uma pilha de cadeiras quebradas de um lado, aquele bebedouro sem água do outro. E você vai se dirigindo à sua sala, com o cartão informativo na mão, seu documento de identidade na outra e umas três sacolas plásticas, que fazem aquele barulho irritante.
Sempre quando você entra, não importa, SEMPRE, o seu lugar vai ser aquele onde bate sol, onde tem uma goteira no teto ou onde a cadeira está "em falso". Isso vai acontecer. Você nunca vai se sentir confortável, porque o vestibular não é pra você se sentir confortável. É pra você suprar dificuldades. E isso começa na sua sala.
Enfim você senta, começa a montar seu altar e fazer um plano de alimentação, toma aquele gole de água que desce bem seco e começa a olhar pro lado. De repente, quem você vê?? Aquele seu colega CDF que só tirava 10. O olhar dele tá tranquilo, nenhuma dúvida parece habitar a mente dele e você deseja por um milésimo de segundo ser aquele cara, mesmo ele não pegando ninguém na vida.
Os fiscais chegam na sala e começam a dar as instruções: nada de celular, pager, rádio de pilha, iphone, ipod, cd player, toca fitas, fone de ouvido, boné (???). Só lápis, borracha e caneta na mesa. Você trouxe umas 10, caso alguma não funcionasse, 5 prestas e 5 azuis pra não ter problema com a cor. Aí chegam elas: as provas. Tudo lacrado. Segurança na porta. Caramba! Dá aquele arrepio na espinha, aquela vontade, de repente, de ir no banheiro, beber água, comer e dormir ao mesmo tempo. O desespero bate.
O fiscal começa a distribuir os cartões de resposta pra você marcar. E esses cartões são bizarros porque tem uns que você tem que preencher com precisão cada milímetro daquilo. É uma nanoresposta! É prova de coordenação motora?? Que droga é essa? A caneta só escreve forte se for com força, devagarzinho e com calma não vai, fica falhando, é um horror.
Você assina seu nome na folha de respostas e percebe que nem parece sua letra. Você tá tremendo como se estivesse num terremoto de 9.9 na escala Richter (nem sei se é assim que se escreve, faltei nessa aula). As provas começam a ser entregues, viradas pra baixo. Você, espertchinho, começa a querer ver alguma coisa contra a luz, mas isso não tem razão de ser porque mesmo que você veja algo antes não vai conseguir pescar a tempo. Já era. Essa é a hora de fazer todas as orações e mandingas que você aprendeu com sua avó e Pai Rodrigo de Oxóssi.
Você abre a prova e lê todas as instruções umas 5 vezes. Vem as questões. Não sei porquê, parece que no vestibular, a comissão que elabora a prova pesquisou quais os assuntos que você menos estudou pra colocar ali. Se você estudou mais termodinâmica e logaritmo tenha certeza que vai cair eletrostática e funções. Simples assim. Você começa a ler a prova de Português, os textos e as assertivas pra responder, lembrando que se a prova for de soma (quando vc tem que somar as alternativas todas) você vai fazer aquela conta mil vezes pra ter certeza de que não errou.
Você vai fazendo sua prova e começa a ficar mais tranquilo, mais relaxado. Quando tudo parece correr bem começa a bater um sol na sua cara. Você começa a ficar puto com aquilo. E o mais estranho é que as salas de prova ou são muito quentes ou muito frias (ou você leva casaco ou vai de roupa de praia), não existe um meio termo.
De repente, naquele silêncio um FDP abre o saco plástico e começa a fazer aquele barulho irritante de salgadinho sendo aberto (ssssssshhhhhhhhiiisiiihsishsihsishishishsh). Aquilo vira reação em cadeia: todo mundo começa a abrir sacola, embalagens, vasilhas tupperware, marmitas e papel alumínio, aquele cheiro de chulé daquele salgadinho sabor queijo e do seu lado alguém que come de boca aberta.
Mas você pensa: já tá no final. Vou continuar fazendo minha prova tranquilo. Tranquilo?? A fiscal faz o favor de dizer: Gente, 30 minutos para o fim das provas!!! Como é que é???? Eu comecei a fazer agora!!!! Você começa a refazer tudo, as somas, colocar as nanorespostas na folha, rever o que ainda não fez e chutar. Você começa a ver qual resposta é a mais "bonita" e mete bronca! Quando falta 2 minutos você termina. Não comeu nada. Não bebeu água. Não acendeu a vela de sete dias. Não foi ao banheiro (e você agradece muito por não ter havido nenhum "desarranjo"). Sai da sala com aquela sensação de "Graças a Deus acabou".
Acabou? Que nada, ainda tem o segundo dia. E nesse segundo dia, a única certeza que você tem é que tudo vai acontecer da mesma forma.
Uma coisa é verdade. Isso tudo passa. Você passa, mais cedo ou mais tarde.