É que esses dias eu estava aqui pensando sobre uma associação que as pessoas costumam fazer entre a pizza e um certo tipo de envolvimento físico humano e resolvi falar sobre isso. A pizza.
A pizza é um objeto peculiar. Quem nunca desejou uma pizza? Quem nunca pôs os olhos naquela pizzaria e desejou profundamente degustar uma pizza? Quem nunca ficou com abstinência por nunca mais ter comigo uma boa pizza, ou mesmo uma pizza "meeira"?
No entanto sabemos que a pizza não é um artefato bom sempre. Às vezes nos deparamos com pizzas de péssima qualidade e, desde que o mercado da pizza se alargou, fica cada vez mais difícil confiar na propaganda ou na rapidez do serviço de delivery.
Muita gente vendendo pizza e a pizza mais fácil de se obter gera a consequência de que ninguém mais presta atenção naquela pizza artesanal que tá ali na garagem italiana de um sobrado alternativo. Tudo agora é pré-fabricado: mesmo as pizzas mais elaboradas seguem um modus operandi que se assemelha à rotina enfadonha de uma fábrica de produção em série, ou de uma peça teatral cujo roteiro já se ensaiou mil vezes.
Mas inovação no mundo da pizza existe e muito! Chega a parecer que ninguém consegue inventar mais nada. Todos os tipos, tamanhos, espessuras, temperaturas e combinações que me lembram aulas de matemática ("Uma pizzaria oferece a possibilidade de 3 sabores em cada pizza: há 24 sabores no cardápio. Quantas combinações podem ser feitas?"). Para todos os gostos e disponibilidades.
E na hora de comer a pizza são tantas as opções: temos pizza pra comer de mão, com garfo e faca, enrolada em cone, transformada em kalzone. E definitivamente não é a mesma coisa nem a mesma pizza. Isto porque modos diferentes de comer a pizza traduzem meios diferentes de se obter o mesmo grau de felicidade e contentamento, ainda que no começo tenhamos de nos acostumar com um novo padrão de proceder.
A respeito da qualidade da pizza tenho a dizer que nem sempre a pizza mais cara é a melhor. Às vezes confiamos no preço e na boa propaganda e nos lançamos volúveis ao sonho da pizza perfeita. Mas o caro sai barato às papilas gustativas e a tão desejada pizza de primeira transforma-se de repente na pizza que pode ser feita, digamos, num restaurante árabe.
E aquela pizza fácil e barata do sobrado alternativo, que você se propõe a experimentar num dia de fome e estado de necessidade, pode se revelar a experiência mais saborosa que um dia se teve. E você nem colocava expectativa. Sequer se permitia olhar com atenção para o sobrado. Pizzas não admitem esse tipo de discriminação. Experimente desprezar uma pizza e vê-la se escondendo de você quando mais necessita.
Mas pizza é bom.
E não sei por que tem gente que não come pizza se não for domingo. "Se for outro dia perde a graça". "Se for todo dia, enjoa". Mas partindo do pressuposto de que nem sempre a pizza é a mesma pizza e que de repente pode ser tanto mais elaborada, quanto de muçarela (simples e sem muita frescura), pode haver pizza todo dia. Depende do quanto se gosta da iguaria!
E que negócio bom é pizza!
Dizem que não há nada que supra uma dor de amor e um filme romântico tão bem como uma bela pizza assistindo a uma série cômica. E se tudo pode terminar em pizza, quem disse que não pode começar também? Amores começam com uma pizza despretenciosa. E ainda que não comece, uma boa companhia e uma pizza podem significar mais que uma companhia cansada que já não aguenta mais o dia de domingo. E aí parte-se para o pior tipo de pizza: a pizza por obrigação, pela companhia, pelo dever moral. Perde-se o gosto pela pizza em si, perde-se o desejo de pizza pelo desejo de começar a segunda-feira, decerto menos sem graça e triste que a pizza pré-fabricada.
Diante disso, deixo alguns conselhos aos que gostam desse alimento:
Não subvalorizem a pizza, tampouco deixem de comê-la por não ser domingo. Desafiem as combinações e o gosto em si. Inventem. Não deixem a pizza de muçarela tomar sua semana toda. Não invente desculpas pra não comer pizza quanto tiver vontade (mulheres, sempre as mulheres), mas também não coma uma pizza por obrigação. Ela não merece. Não faça pouco caso das pizzas baratas no preço - podem ser caras no paladar. Não deixem a pizza esfriar na mesa: você pode comê-la de um só ato ou até deixá-la na geladeira, reservando para o dia posterior a surpresa de uma pizza escondida atrás do prato de brigadeiro. Não sejam egoístas com a pizza, degustá-la junto a uma boa companhia é melhor do que comê-la sozinho em frente ao computador ou televisão.
Pizzas boas de verdade não se afinam com não-me-toques, frescuras e aprofundado exame de admissibilidade. Boas pizzas são inusitadas e surpreendentes, ainda que simples. São aquelas que nos transportam no fechar dos olhos e nos inebriam como se conseguissem chegar ao âmago de nossas almas. Boas pizzas são um convite ao paraíso. Más pizzas são um convite à perseverança.
Aproveitem a pizza. Qualquer pizza.
É bom até quando é ruim.
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