Sempre tive adoração pelo Hino Nacional. A melodia é linda e a letra, se não é das mais fáceis de serem entendidas, com suas construções invertidas e metáforas complexas, também não se torna um obstáculo à produção de um sentimento bom toda vez que a ouvimos.
Talvez porque o nosso hino nacional tem algo de peculiar em relação a diversos hinos ao redor do mundo. É que diferentemente dos demais, que fazem menção a guerras, batalhas, revoluções, o nosso faz expressa menção a nada mais nada menos que o amor.
Parem para prestar atenção.
O que pode ser mais bonito e significativo do que dizer, mais de uma vez, que a nossa pátria é amada?
O Brasil, para nós, assume essa condição de ser amado, o que supera qualquer chance, qualquer possibilidade de coisificação de sua natureza. Amamos nosso país como amamos às pessoas: não por sentimento de posse mas pela mais completa sensação de bem-estar que o outro nos proporciona. Mário Quintana já disse que "amor é quando a gente mora um no outro". Moramos no Brasil e ele em nós, onde quer que nossos pés estejam fincados.
Está certo que às vezes nos decepcionamos e passamos a acreditar que talvez seja melhor deixar esta terra, este espaço, e galgar caminhos diversos que nos levem a uma vida um tanto mais confortável, com menos violência, menos corrupção, menos miséria.
Mas, pensando bem, talvez a nossa pátria é que queira ir embora da gente e em maior ou menor grau nós é que devemos desculpas a ela. Desculpas por ter deixado tanta coisa acontecer sob nossos olhares acomodados; por ver com resignação uns poucos bandidos se apossarem do que é de todos nós por direito; por ter desaprendido a brigar por ela como um amante apaixonado luta bravamente e corre todos os perigos para proteção do ser amado.
Só que o amor é paciente e bondoso e nunca é tarde para pedir perdão.
Nessas últimas semanas este país pôde experimentar a força desse sentimento. E nesses dias, o Congresso Nacional, à semelhança das margens do Ipiranga, também ouviu os brados, os gritos de desculpa, de um povo verdadeiramente heroico.
Não foram vinte centavos, a PEC 37 ou o clamor pela reforma política que nos uniu e nos levou a marchar de maneira impávida - corajosa - pelas mais variadas ruas de tantos estados do Brasil. Não foi por essa "merreca", como disse um jornalista que aqui não merece ser citado, mas foi pelo mais puro amor que nós levantamos de nosso conforto, nossas camas e sofás para defender nossa amada.
Provamos que não somos filhos ingratos e que estamos prontos a cuidar dessa terra maravilhosa e do que pode nos fazer melhores. Provamos que podemos tomar "partido" sem precisar de partido político e vimos que, vergonhosamente, embora muitos não precisem de R$ 0,20, ainda há uma parcela da população que conta moedas para passar o mês.
Não é preciso um motivo individual nem que sejamos diretamente afetados pelo aumento das passagens do transporte público: é preciso tão somente amar cada pessoa que faz parte desse universo de brasileiros e reconhecer em cada olhar necessitado o pedido de ajuda que nos dirige a nação. Afinal de contas, um filho dessa pátria idolatrada não pode fugir à luta.
E lutamos por ela. Mesmo com medo ou desestimulados. Mesmo com a presença de alguns policiais despreparados e ignorantes. Mesmo com a opinião desfavorável dos que se dizem intelectuais e democráticos. Mesmo com o risco à segurança própria. É porque o hino já nos disse que quem adora a pátria não teme nem mesmo a própria morte.
Provamos que somos maiores que o poder de quem sempre achou que detém o poder. Maiores que os muros de medo que nos separavam de nossa esperança e de nossa força de vontade. Maiores que a indiferença com as quais nos tratam. Ao mesmo tempo somos partes muito pequenas de um país de proporções continentais, mas jamais seremos insignificantes. Nós formamos um gigante chamado Brasil, que não assume esta condição apenas por força das circunstâncias, mas sim por sua própria natureza.
Nossos gritos ecoaram em todos os extremos desse país e foram ouvidos por todos, da Presidente à Câmara dos Deputados: os políticos viram que são eles que devem nos temer e não o oposto. A pátria, apesar de ser uma mãe gentil, não é condescendente com o comportamento dos que tentam, com todas as forças, subvertê-la e destruí-la.
Nós é que somos a força desse país! Mostramos que Brasília é nossa casa e que não somos apenas sombras projetadas nas cúpulas do Congresso Nacional, como se viu durante as manifestações. Somos corpos, somos braços fortes, somos peito e grito. Somos vozes.
E após ouvir nossa voz, uma Presidente nos fala em cadeia nacional que não deveríamos depredar o patrimônio público, mesmo quando a maior degradação de nosso patrimônio ocorre em Brasília, em salas com carpete e café de boa qualidade. Disse que deveríamos tratar com respeito e CARINHO - a palavra foi essa - os estrangeiros que vem a nosso país assistir aos eventos esportivos, mesmo quando a mão do Estado vem para nós, filhos desse país, em forma de um tapa, desferido sem dó naqueles que nada tem.
Ouvimos este pronunciamento não como quem tinha a esperança de tudo mudar, mas como quem tinha consciência de que pode mudar e de que, em alguma sala de reuniões apinhada de políticos covardes, o comentário era o de que o povo brasileiro não aceitaria mais a corrupção como parte do seu DNA.
Isso tudo ficou ainda mais claro na votação da PEC 37 realizado ontem, no plenário da Câmara dos Deputados. Uma proposta que contou, inicialmente, com 207 votos favoráveis para seu prosseguimento e com aprovação na Comissão de Constituição e Justiça, foi fulminada por 403 votos a 9. Políticos fazendo o papel ridículo de deixar claro que não apoiaram a PEC porque sabiam que este Brasil de agora não é o mesmo de antes. É um país que assiste à TV Câmara e que compartilha nas redes sociais o nome dos deputados que votaram nesse ou naquele sentido.
No fim das contas nós, que fomos apelidados de geração alienada, que nos acostumamos a ouvir de nossos pais que na época deles por muito menos a população ia às ruas, que fomos chamados de baderneiros e vândalos, é que resgatamos toda a esperança e fé. Nós é que levantamos o país. Nós é que lutamos pelo que amamos de verdade.
O gigante não acordou porque nunca dormiu. Ele apenas tomou consciência de seu tamanho.
Nós é que somos a força desse país! Mostramos que Brasília é nossa casa e que não somos apenas sombras projetadas nas cúpulas do Congresso Nacional, como se viu durante as manifestações. Somos corpos, somos braços fortes, somos peito e grito. Somos vozes.
E após ouvir nossa voz, uma Presidente nos fala em cadeia nacional que não deveríamos depredar o patrimônio público, mesmo quando a maior degradação de nosso patrimônio ocorre em Brasília, em salas com carpete e café de boa qualidade. Disse que deveríamos tratar com respeito e CARINHO - a palavra foi essa - os estrangeiros que vem a nosso país assistir aos eventos esportivos, mesmo quando a mão do Estado vem para nós, filhos desse país, em forma de um tapa, desferido sem dó naqueles que nada tem.
Ouvimos este pronunciamento não como quem tinha a esperança de tudo mudar, mas como quem tinha consciência de que pode mudar e de que, em alguma sala de reuniões apinhada de políticos covardes, o comentário era o de que o povo brasileiro não aceitaria mais a corrupção como parte do seu DNA.
Isso tudo ficou ainda mais claro na votação da PEC 37 realizado ontem, no plenário da Câmara dos Deputados. Uma proposta que contou, inicialmente, com 207 votos favoráveis para seu prosseguimento e com aprovação na Comissão de Constituição e Justiça, foi fulminada por 403 votos a 9. Políticos fazendo o papel ridículo de deixar claro que não apoiaram a PEC porque sabiam que este Brasil de agora não é o mesmo de antes. É um país que assiste à TV Câmara e que compartilha nas redes sociais o nome dos deputados que votaram nesse ou naquele sentido.
No fim das contas nós, que fomos apelidados de geração alienada, que nos acostumamos a ouvir de nossos pais que na época deles por muito menos a população ia às ruas, que fomos chamados de baderneiros e vândalos, é que resgatamos toda a esperança e fé. Nós é que levantamos o país. Nós é que lutamos pelo que amamos de verdade.
O gigante não acordou porque nunca dormiu. Ele apenas tomou consciência de seu tamanho.