1º ato.
-Adão, come aqui essa fruta proibida.
-Mas não é proibida?
-É.
-E foi Deus que proibiu?
-Foi.
-Vou comer não.
-Coma aí.
-Vou nada, tá louca?
-Só um pedacinho!
-Não!
-Por favor, Adão. Só temos nós dois aqui. Ninguém vai ver.
- Imagina, vai nada...Tá doida, mulher? Tu esqueceu que o Chefe é onipresente?
-Só um pouquinho, deixa de ser chato.
-Não, não e não. E joga esse negócio fora...
- Sempre assim: só estamos nós dois aqui, eu sou o único ser humano com você e em vez de fazer o que eu peço você fica implicando..sempre assim...Depois vem de noite: "Evinha...ô evinha....vem cá..." Deixe estar.
- Mas é proibido, Evinha! Fica assim não..Se Deus descobre, acaba expulsando a gente do Paraíso.
- Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Poxa, Evinha...Você sabe que eu faria qualquer coisa pra ver você feliz.
- Sério?
E assim Adão e Eva foram expulsos do Paraíso.
2º ato.
- João, vamos fugir para aquela Colônia ao sul? Como é mesmo nome? Bras...
- Brasil.
-É! Soube hoje pelas criadas que Napoleão está comandando um exército para nos matar.
-Tá mesmo.
- Então vamos pra lá.
- Tá maluca? Índio, mosquito, um calor dos infernos...Vou não. Vou ver outra colônia dessas aí.
- João, o que custa? Colocamos a Corte e nos mudamos para lá. Soube que não é tão ruim.
- Imagina se é ruim...um paraíso tropical cheio de doença, índio, sujeira, tudo bagunçado.
- Ai, João, por que você fala assim com essa ironia toda? Só porque eu dei uma opinião? Não se pode mais nem dar opinião nesta porcaria deste palácio?
- Carlota, minha querida, deixa eu te explicar uma coisa: se nós formos mesmo para o Brasil, vamos ter que tentar organizar tudo lá, criar um bocado de coisa, arrumar outras. Muito trabalho.
- Então você prefere ficar aqui e morrer? Tudo isso por causa de preguiça? Bem que minha mãe falou que homem só não é mais preguiçoso porque nasceu com duas patas e não tem como se apoiar em mais duas!
- E por este princípio, mulher só não fala mais besteira porque nasceu com uma boca só!
- Tá vendo como você é? Não posso falar nada que você vem com essas grosserias. Deixe estar, João. Mais tarde eu vou fugir do quarto como Diabo fugindo da cruz.
- Vamos pra qualquer outro lugar mas não pro Brasil, certo?
- Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Carlotinha, fica assim não...Você sabe que eu faço tudo pra te ver feliz, não sabe?
- Sério?
E assim a Família Real desembarcou no Brasil.
3º ato.
- Amor, leva esse sofá lá pra baixo?
- É um SOFÁ. Deve ter uns mil quilos isso aí...
- Mas ele não pode ficar aqui.
- Por quê? É bem em frente à TV!
- Justamente, vou colocar umas poltronas aqui, modificar o espaço. Deixar mais amplo, sabe?
- Hum...e a TV?
- Vai pro quarto de hóspedes.
- Oi?
- Quarto de hóspedes.
-Como é que eu vou assistir ao jogo no domingo?
-Tem mais duas TVs na casa, meu bem.
- Não vai ter nenhuma na sala.
- Assiste no quarto.
- Sem poder comer nada na cama, nem tomar chopp em cima do lençol de algodão egípcio que sua mãe trouxe dos Estados Unidos?
- É. Leva logo esse sofá.
- Pesa uns mil quilos isso aí.
- Eu preciso ver como vai ficar.
- Não vai dar pra levar! Como eu vou descer com esse sofá sozinho pela escada? Parece que bebeu!
- Então eu dou um jeito e levo! Estou acostumada a fazer tudo sozinha mesmo! Mas olha só, quando for de noite eu também vou fazer questão de ficar SOZINHA, tá?
- Faz assim não, meu amor. Não precisa isso tudo. É porque esse sofá é muito pesado e se eu levar sozinho corro o risco de cair e quebrar 3 costelas.
-Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Ô, Aninha, você sabe que eu faria qualquer coisa pra te ver feliz, né?
-Sério?
E assim Júlio quebrou três costelas.