sexta-feira, 29 de junho de 2012

As mulheres e suas artimanhas - em 3 atos.


1º ato.

-Adão, come aqui essa fruta proibida.
-Mas não é proibida?
-É.
-E foi Deus que proibiu?
-Foi.
-Vou comer não.
-Coma aí.
-Vou nada, tá louca?
-Só um pedacinho!
-Não!
-Por favor, Adão. Só temos nós dois aqui. Ninguém vai ver.
- Imagina, vai nada...Tá doida, mulher? Tu esqueceu que o Chefe é onipresente?
-Só um pouquinho, deixa de ser chato.
-Não, não e não. E joga esse negócio fora...
- Sempre assim: só estamos nós dois aqui, eu sou o único ser humano com você e em vez de fazer o que eu peço você fica implicando..sempre assim...Depois vem de noite: "Evinha...ô evinha....vem cá..." Deixe estar.
- Mas é proibido, Evinha! Fica assim não..Se Deus descobre, acaba expulsando a gente do Paraíso.
- Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Poxa, Evinha...Você sabe que eu faria qualquer coisa pra ver você feliz.
- Sério?
E assim Adão e Eva foram expulsos do Paraíso.



2º ato.

- João, vamos fugir para aquela Colônia ao sul? Como é mesmo nome? Bras...
- Brasil.
-É! Soube hoje pelas criadas que Napoleão está comandando um exército para nos matar.
-Tá mesmo.
- Então vamos pra lá.
- Tá maluca? Índio, mosquito, um calor dos infernos...Vou não. Vou ver outra colônia dessas aí.
- João, o que custa? Colocamos a Corte e nos mudamos para lá. Soube que não é tão ruim.
- Imagina se é ruim...um paraíso tropical cheio de doença, índio, sujeira, tudo bagunçado.
- Ai, João, por que você fala assim com essa ironia toda? Só porque eu dei uma opinião? Não se pode mais nem dar opinião nesta porcaria deste palácio?
- Carlota, minha querida, deixa eu te explicar uma coisa: se nós formos mesmo para o Brasil, vamos ter que tentar organizar tudo lá, criar um bocado de coisa, arrumar outras. Muito trabalho.
- Então você prefere ficar aqui e morrer? Tudo isso por causa de preguiça? Bem que minha mãe falou que homem só não é mais preguiçoso porque nasceu com duas patas e não tem como se apoiar em mais duas!
- E por este princípio, mulher só não fala mais besteira porque nasceu com uma boca só!
- Tá vendo como você é? Não posso falar nada que você vem com essas grosserias. Deixe estar, João. Mais tarde eu vou fugir do quarto como Diabo fugindo da cruz.
- Vamos pra qualquer outro lugar mas não pro Brasil, certo?
- Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Carlotinha, fica assim não...Você sabe que eu faço tudo pra te ver feliz, não sabe?
- Sério?
E assim a Família Real desembarcou no Brasil.



3º ato.

- Amor, leva esse sofá lá pra baixo?
- É um SOFÁ. Deve ter uns mil quilos isso aí...
- Mas ele não pode ficar aqui.
- Por quê? É bem em frente à TV!
- Justamente, vou colocar umas poltronas aqui, modificar o espaço. Deixar mais amplo, sabe?
- Hum...e a TV?
- Vai pro quarto de hóspedes.
- Oi?
- Quarto de hóspedes.
-Como é que eu vou assistir ao jogo no domingo?
-Tem mais duas TVs na casa, meu bem.
- Não vai ter nenhuma na sala.
- Assiste no quarto.
- Sem poder comer nada na cama, nem tomar chopp em cima do lençol de algodão egípcio que sua mãe trouxe dos Estados Unidos?
- É. Leva logo esse sofá.
- Pesa uns mil quilos isso aí.
- Eu preciso ver como vai ficar.
- Não vai dar pra levar! Como eu vou descer com esse sofá sozinho pela escada? Parece que bebeu!
- Então eu dou um jeito e levo! Estou acostumada a fazer tudo sozinha mesmo! Mas olha só, quando for de noite eu também vou  fazer questão de ficar SOZINHA, tá?
- Faz assim não, meu amor. Não precisa isso tudo. É porque esse sofá é muito pesado e se eu levar sozinho corro o risco de cair e quebrar 3 costelas.
-Quer saber? Deixa pra lá! Precisa mais não...Esquece!
- Ô, Aninha, você sabe que eu faria qualquer coisa pra te ver feliz, né?
-Sério?
E assim Júlio quebrou três costelas.






quarta-feira, 20 de junho de 2012

O galinheiro.


Era uma vez um galinheiro imundo e pobre. Este galinheiro era repleto de galinhas, muitas delas, de todos os tamanhos e cores. A maioria das galinhas colocava ovos, esforçava-se pra cumprir esta sublime obrigação profissional e com isso conseguir continuar vivendo no galinheiro.
O galinheiro era governado por galos. E as galinhas se deixavam governar por eles.
Tradicionalmente, a cada 4 anos era realizada uma disputa pra ver qual dos galos ia governar o galinheiro.


O propósito das galinhas era que o galinheiro fosse governado por um bom galo, que cumprisse seu papel de gestor do galinheiro e chamasse a atenção do dono da fazenda quanto ao potencial daquele lugar, para que fosse investido mais milho no galinheiro, para que as galinhas conseguissem produzir mais ovos e assim melhorar toda a situação.

As galinhas reclamavam que faltava saneamento básico no galinheiro, atendimento médico para as galinhas extasiadas de tentarem botar ovos e educação para que as galinhas novatas aprendessem a realizar sua função profissional. As galinhas não tinham descanso, trabalhavam dia e noite. Estavam tão cansadas de tudo!

Mas o propósito dos galos não era melhorar nada. Em verdade, os galos não estavam nem aí pra situação dos galinheiros ou das galinhas. O objetivo dos galos era ter milho, muito milho, amarelinho que nem ouro! E quanto mais milho melhor. Muito galos já tinham uma poupança de milho, que eles investiam na disputa, para ganhar a competição e conseguir ainda mais milho.

E quando chegava a época da disputa os galos e as galinhas ficavam loucos: os galos tiravam fotos com galinhas pobres, faziam comícios no galinheiro (que geravam grande alvoroço pelo cacarejar de todas ao mesmo tempo), prometiam melhorar o galinheiro de todas as formas. Ou seja, faziam as galinhas pensarem que seu objetivo era o mesmo que o delas. Mas não era.


Algumas galinhas acreditavam. Outras, inescrupulosas, prometiam votar em determinado galo se ele lhe desse um pouco do milho amarelo-ouro. E os galos davam muito milho para conquistar apoio dessas galinhas. Para algumas era oferecidos cargos melhores do que simplesmente"botar ovos". Algumas galinhas votavam no galo que lhe prometesse mudar seu lugar no poleiro.


Muitas galinhas ficavam revoltadas com essa situação. Outras, a maioria delas, gostavam da disputa. Brigavam umas com as outras, arrumavam confusão, apostavam e diziam que determinado galo era melhor que outro. Perdiam amizade. Às vezes as galinhas mudavam de lado pra conseguir um melhor lugar no galinheiro ou quem sabe um pouquinho do milho dos galos.

E não percebiam que a situação do galinheiro só piorava.

Às vezes a condição do galinheiro ficava tão feia que as galinhas começavam a reclamar e a se indignar. E então o galo que estava no poder resolvia fazer festa no galinheiro e gastar milho nisso. Aí as galinhas esqueciam dos problemas e voltavam felizes pro galinheiro imundo.
E assim esqueciam-se de suas vidas miseráveis como galinhas e do quanto eram oprimidas pelos galos. Esqueciam-se de que os galos só queriam mesmo o poder no galinheiro e que a história de se importar com a condição das galinhas era mesmo "conversa pra boi dormir" (o boi do curral vizinho).

Pobres galinhas! Eram tantas! Muitas! Eram mais que os galos! Sustentavam a disputa de galos! Mas o cérebro limitado de galinha impedia este raciocínio. Cada uma se via uma galinha isoladamente considerada e insistia no discurso do "Eu sozinha não posso fazer nada mesmo..."
Enquanto isso, os galos viviam soberanos e de crista erguida. Sentiam-se donos do galinheiro, mas não eram. Sentiam-se donos do milho e até das galinhas! Mas não eram.


E o galinheiro? Tinha tanto potencial! Mas isso nem era considerado perto do milho amarelo de ouro...

É...É uma pena que os galos nunca tenham percebido o quanto poderiam ter melhorado a vida das galinhas se ao menos cumprissem com honestidade o papel de gestores do galinheiro.
E é uma pena que as galinhas nunca tenham percebido que, para além das festas e da disputa, a única verdade visível era de que o galinheiro estava ficando cada dia mais sujo da caca dos galos.

Alguém avisa pra essas galinhas que está na hora de limpar.

domingo, 17 de junho de 2012

Tipos de pessoas no facebook.

Baseado nas regras de experiência e no que comumente acontece, resolvi catalogar alguns tipos de pessoas que existem no facebook e que se destacam por sempre agir de um mesmo jeito.

São elas:

O popular - Qualquer status é compartilhado e bem "curtido". Um simples "Bom dia, pessoal!" tem 46 pessoas comentando e 105 curtindo. Em geral são chefes de alguma coisa, professores ou artistas. Todo mundo parece que faz questão de puxar o saco da pessoa, pois a expressão "O popular foi marcado em Shopping" gera uma comoção popular. Aí vem 30 pessoas perguntar se tá fazendo compras, mais 35 desejar um bom passeio, e mais 79 pessoas curtem. O popular é marcado em 3456 fotos com estranhos ou com turmas aleatórias de pessoas, que rendem pelo menos 345667 comentários. Um sucesso. Não sei como as empresas não se aproveitam dos populares pra fazer propaganda. Seria algo mais ou menos assim: "O popular está usando Bombril em sua cozinha" - 986 pessoas curtiram isso, 89 pessoas comentaram dizendo: EU TAMBÉM!!!"

O defensor dos fracos e oprimidos - É aquele que compartilha e curte tudo que tenha a ver com crianças mutiladas, passando fome ou animais ensanguentados, bem como aquele que posta frases do estilo "Cadê a justiça nesse mundo?". O defensor pode ser dois tipos de pessoa: a) uma muito ingênua, que de fato acredita estar ajudando em alguma coisa pelo mero fato de compartilhar uma foto chocante; b) é uma pessoa muito egocêntrica que tem necessidade de ser visto como "bonzinho", não o sendo em verdade. Desconfio de "bonzinhos", que querem aparentar ser assim por 24 horas ao dia. Desconfio de quem manda uma mensagem dizendo: "Esta criança está passando fome na África" e não doa um pão pro mendigo da esquina.

O contraditório - é aquela pessoa que escreve: "Ai que sono!" e não sai do face pra dormir. Da mesma linhagem daquela que escreve "Preciso estudar" e não sai do facebook. Em geral destacam-se pela dificuldade de demonstrar uma linha de raciocínio único. Por exemplo: posta uma foto de uma modelo gostosa e embaixo a legenda "Curto beleza interior", ironicamente. Dois dias depois tá publicando : "Só queria achar alguém pra ser meu amor." Também costuma ser assim a pessoa que curte comentários sobre o que ela mesma faz. Por exemplo: eu posto "Odeio pessoas que mandam solicitações de jogos" e o contraditório curte, mas me manda uma notificação de jogo no outro dia.

O depressivo - Pessoa que não tem finalidade alguma no facebook salvo procurar um psicólogo. Em geral esta pessoa não coloca muitas fotos, não comenta coisas legais. Apenas faz publicações do tipo: "Muito triste =/. " ou "Só queria sentir menos dor no meu coração." Em geral tem uns dois amigos que curtem a publicação (curtir a depressão do outro é bizarro né?? É que nem curtir a publicação "LUTO") e depois comentam dizendo: "Fica assim não, eu te amo." ou "Deus está com você" ou simplesmente, "Força.". É uma pessoa que curte a página "Prozac virtual" ou "Mensagens de autoestima." . Muito desagradável. Fico com vontade de recomendar um psicólogo amigo meu sempre que vejo pessoas assim.

O "bom vivant" - Pelas fotos do facebook a impressão que passa é que ele frequenta festas oito vezes por semana. Há apenas dois tipos de álbuns para essas pessoas: um denominado "Eu", no qual todas as fotos são bonitas, com óculos Ray Ban ou em festas sozinho; e outro, denominado "Saidinhas" ou "Carpe Diem" em que são colocadas apenas fotos de festa mesmo: de camisa, sem camisa, boate, casa noturna, balada GLS etc. As publicações em geral se resumem ao ódio à segunda-feira e fotos de cerveja e coisas de "Sexta-feira". Também tem muitas publicações "Partiu": #partiusauípe, #partiuPF, #partiupacha, #patiucamarotedonana. Outra coisa interessante é que não há resquícios de faculdade ou coisas relacionadas a estudo. Nada. Nem uma foto de turma, uma publicação sobre estudo, prova etc. Incrível como tem gente que sobrevive de festa.(Inveja).

O "mauricinho" / "patricinha" - Também adora as publicações "Partiu". Todas as fotos são de Instagram, o que denota riqueza no aparelho celular. São pessoas que adoram ser marcadas nos lugares e é bem comumr ver o seguinte: "Fulaninha de Tal foi marcada em SOHO com Fulano, Fulano e Fulana.." Ir para churrasco de um amigo é um evento de moda. Em geral curtem páginas como "Calvin Klein", "A/X", "Ray Ban" e não só curtem como fazem questão de mostrar os objetos que adquirem em tais lojas. Tem 34 álbuns: um pra cada lugar do mundo que conheceram e mais um de fotos no Brasil. Também não há resquícios de Faculdade ou outra ocupação; quando muito uma foto da turma da faculdade particular na Just One.

O intelectual ativista social - Muito semelhante ao "defensor dos fracos e oprimidos" mas o teor das reivindicações é outro. Curte todas as páginas de todos os filósofos conhecidos mundialmente. Também curte todas as páginas do tipo "Capitalismo burro", "Direito pra quem?", "Polícia torturadora". Compartilham mensagens do tipo "Veta, Dilma!" sem nem ter lido o projeto de Código Florestal. Falam mal do Capitalismo e compartilham mensagens "via Ipad". Estão a um passo do "contraditório". Também são reconhecidos como xiitas. Se você, ser humano normal, posta algo dizendo que não gosta do batom preto, ele vem comentar dizendo que isso é um reflexo do capitalismo racista e segregador, que influenciou o gosto pelo batom branco, fazendo parecer que o batom preto merece menos créditos. Mas você, que postou, sabe que tudo é uma coisa só: chocolate. E que não tinha nenhuma intenção em desmerecer ninguém. É o mesmo que publicar: "ai que fome! vontade de comer uma torta!" e ver o comentário "existem pessoas que passam fome de verdade no mundo.". É. Um saco.

Coroas/Velhos - representam a classe dos pais, tios e avós no facebook. Estão sempre por ali, atentos a todos os seus movimentos. Costumam curtir e comentar em todas as suas fotos. Também publicam na sua timeline aquele "Oi? Tudo bem?" ou uma mensagem compartilhada com flores e embaixo dizendo "Bom dia". Alguns pais/mães regulam os filhos pelo facebook. Alguns deles compartilham suas próprias publicações (vide meu pai) ou curtem os próprios status. Se perdem ao olhar o facebook de algum conhecido e acabam na página da amiga da prima do vizinho do colega da pessoa, sem saber como chegaram ali. Enviam muitas solicitações de aplicativos e de horóscopo.

Comediante - Vive de postar coisinhas engraçadas e no fundo, no fundo, deve ter a esperança de que algum olheiro da Globo o leve para o Zorra Total (eu, em muitos momentos). Curte páginas de humor e em geral compartilha coisas engraçadas, às vezes idiotas, às vezes sem noção. Fica tristíssimo em casa, quando não consegue que muitas pessoas curtam suas publicações. É o primeiro a postar vídeos trash do Youtube. Cutuca todo mundo. Lança resenhas que não podiam ser lançadas. Às vezes é inconveniente, mas é o tipo de perfil com o qual eu mais me divirto. Todos os outros me dão raiva às vezes.

#Ficadica


quarta-feira, 13 de junho de 2012

Rica só pra comer bem.

Quem me conhece sabe que eu já proferi inúmeras vezes a frase "Queria ser rica só pra comer o que eu quisesse...Chegar assim num dia qualquer e dizer: vou ali almoçar num restaurante bacana com comida gostosa."

É verdade. Quero ser rica só pra isso.

Pra quem não me conhecia, ou me conhecia pouco, agora já sabe pelo menos minha maior ambição: ser rica só pra comer bem. E aí eu vejo uns quadros do Fantástico, do Bem Estar ou da Ana Maria Braga que tentam nos iludir dizendo que se alimentar bem não custa caro. Mostram uma feira livre, com frutas e verduras fresquinhas e baratas, nas quais os repórteres ainda pechincham e conseguem descontos maiores.
Vocês acham que Ana Maria almoça um quiabo de feira? Uma sardinha com farofa? Uma fruta da estação?
Ainda que almoçasse, dá pra fazer isso TODO SANTO DIA, produção?
Um abraço para Ana Maria, mas sinceramente, não dá não. Com o pastel a R$ 2,00 não tem cristão que se desloque pra feira de São Joaquim ou pra Ceasinha pra comer fruta meio dia!

Comer bem é caro, e por isso mesmo eu desenvolvi um gosto peculiar em restaurantes e bares. Só olho a parte direita do cardápio, onde estão os preços. Sim, apenas a parte direita, pois o que os olhos não veem o coração não sente. E o engraçado é que os cardápios de alguns bares passaram a desenvolver uma modalidade de coação com o nome dos pratos. É impressionante! Todos os meus pedidos (sempre mais baratos) tem o nome de "Pão duro", "Sem graça", "Canguinha" etc... Já viram isso? Pense numa derrota que eu sinto ao pronunciar esses nomes como meus pedidos! É por essas e outras que preciso ser rica.

Aliás, essa mania que tenho de só olhar o cardápio pelo lado direito já me rendeu grandes dissabores. Certa feita eu saí com um grupo de amigos e só tinha R$ 19,00 (DEZENOVE REAIS) na minha conta bancária. Tudo bem, estava entre amigos; caso me faltasse dinheiro alguém completaria a conta ou me emprestaria. Mas tentei não precisar. Por isso fui olhando os preços do cardápio e na minha cabeça eu tava pensando EXATAMENTE ASSIM:

"R$ 39,00, tá caro, nem sei o que é mas deve ser algo com camarão ou salmão ou filé...R$ 35,00, ainda caro...deve ser o mesmo camarão ou salmão só que menor e com menos coisa....R$ 29,00, não tem condições ainda de comer isso que eu nem sei o que é...fora que alguém terá de me emprestar dez reais e eu vou ficar sem nada...R$ 23,00, hum, deve ser alguma coisa de carne-do-sol, mas ainda pode melhorar o preço...R$ 18,00, começando a ficar bom, mas ainda pode melhorar....R$ 15,50, huuum agora sim tá chegando num nível legal..dá pra comer isso e só isso, sem beber nada, mas vamos continuar a procura por algo mais barato..." E assim por diante.
Lá no final do cardápio, dei uma olhadela e tinha lá o preço incrível de R$ 4,00. Pensei  "deve ser um pastel então eu como, digo que não tava com fome (isso e sempre mentira) e ainda dá pra tomar um refrigerante!" Toda feliz já ia fazer o pedido, o que quer que fosse aquilo ali cujo preço eu analisava.

Então olhei o que era. Depressão. Angústia. Do lado esquerdo do cardápio havia a palavra "EMBALAGEM."

Só quem não tem dinheiro sabe o que é olhar no cardápio e ver que só teria condições de comprar cigarro, embalagem e mix de castanhas (que deve ter uns 10g só). Só quem não tem dinheiro sabe o que é ir ao shopping e ficar olhando "Amor aos pedaços", "SOHO", "Il pollo" e acabar comendo um "baratíssimo" sem refrigerante na Subway.

Só quem não tem dinheiro sabe o que é riscar as palavras "salmão", "camarão", "lagosta", "filé" do vocabulário gastronômico e, consequentemente da dieta. Só quem não tem dinheiro sabe o que é pedir um prato barato e vir algo cujo ingrediente principal é ovo. Ovo, aquilo que em minha casa não pode nunca faltar.

Só quem não tem dinheiro sabe o que é ter de fingir que não tá com muita fome pra dividir um lanche com alguém e ficar mais barato. "Amiga, eu não como isso tudo não, vamos dividir?" É MENTIRA! EU COMO! Eu comeria dois pratos iguais dado o tamanho da minha fome, mas não tenho dinheiro.

Mas como "ser pobre é ser ousado" a gente sempre faz uma extravagância de vez em quando. Vai no Spaghetti Lilás. Aquele bando de comida a kilo te rodeando e pobre que é pobre mesmo faz o que? Vai colocar umas folhas de alface, que não pesa! Uma rúcula e um pouquinho de milho verde com uma rodela de palmito. Aí em vez de fazer um prato balanceado que nem os "de rico" - cada coisa em seu lugar, uma proteína, salada e um carboidrato - coloca no prato um pedaço daquela torta compacta de camarão (porque pobre que é pobre adora um camarão!), dois tipos de batata, frita e cozida (porque "incha" no estômago), arroz e feijão tropeiro (que é outra coisa que pobre adora). "Gostaria de um grelhado, senhora?" Não! O preço do quilo do grelhado é maior que o da comida normal!!

Enfim, preciso ser rica só pra comer bem. Meu sonho: Eu, linda, descendo de um carro com aquele canhão de luz em mim, vento nos cabelos e eu me dirigindo a um restaurante de comida gostosa. Eu sento numa mesa, olho o cardápio (DESTA VEZ DO LADO ESQUERDO) e vou vendo aquelas comidas maravilhosas com "ervas finas", "queijo gorgonzola" e essas coisas que deixam as comidas caras. Aí eu peço O QUE EU TIVER COM VONTADE acompanhado da bebida QUE EU QUISER...

Só que acordo.E depois de todas essas desventuras ainda tenho que ouvir nos programas de entrevista aquela pessoa famosa que quer se passar por modesta falando que o prato preferido dela é "arroz e feijão."

Enfim, comi uma comida muito ruim hoje e me senti tão triste que precisava desabafar. É isso.



Aos xiitas: Este é um texto pra ser engraçado. Sei que tem muita gente que é pobre de verdade e passa fome de verdade no mundo. Se você está me achando a pior das pessoas porque não escrevi algo com consciência social, desculpa, mas o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser. Quando for hora de coisa séria eu escrevo. Beyjos.

domingo, 10 de junho de 2012

Dia dos namorados. Ou não.

Penou para conseguir um namorado até o dia 12.
Frequentou bares, restaurantes, shows, praia, shopping, estádios e até o botequim da esquina, onde o público alvo não passava de homens casados com mais de 50 anos, calvos e gordos.
Passou da fase da preocupação, da ilusão, da solidão até culminar com aquele desespero mórbido, típico dos carentes. Proferiu heresias - "vou ser sozinha e criar 52 gatos" - e até ameaças.
Se produziu e gastou dinheiro. Chapinha, escova progressiva, definitiva (que é, contraditoriamente, efêmera), inteligente, de chocolate, tailandesa e um sem número de hidratações, relaxamentos, luzes. E haja paciência. E haja revista Caras.
Achou que o problema era o corpo e foi pra academia. Gastou mais dinheiro. Corrida, aulas de suingue baiano, spinning, musculação, natação. E nada.
Resolveu investir no intelecto e passou a frequentar livrarias, galerias de arte, museus. Entrou no cheque especial. Dostoiévski, Marx, Jung e muito café pra acompanhar. E haja vontade de ler gibi e parar de fingir entender aquelas pinturas estranhas que ela tinha certeza que era só tinta jogada numa tela branca.
Cansou.
E, quando enfim se cansou, justo no dia 12, deitou em sua rede na varanda para fumar o cigarro das 23h e ouvir música. Mozart. Não, Tchaikovsky. Botou um disco de Caetano. E parou pra pensar nos casais felizes dos comerciais da TV e do Facebook. Tão bonitos, inteligentes, bem-sucedidos. Sem problemas, aparentemente. Filhos, carreira e uma vida tão organizada quanto uma fila japonesa.
E ela sozinha no apartamento de 85 m².
Decidiu sair. Pegou a chave do carro. A chave caiu mais de uma vez no chão. Xingou mais de uma vez ao ver a chave cair. Chutou a chave. Resgatou-a novamente e partiu.
Revolta, indignação e aquele espelho do elevador que vivia dizendo o quanto ela não era feliz sozinha. Queria quebrar aquele espelho.
Foi quando ele entrou. Ela ensaiou um sorriso. Saiu péssimo. Ele retribuiu com a mesma falta de sinceridade. Cumprimentaram-se sem querer saber um do outro. Ele com flores machucadas na mão. Raiva no olhar. Ela saudosa das flores que nunca tinha recebido. Ignorou aquelas rosas que faziam complô contra ela. Ia beber muito.
Tomou o caminho do botequim da esquina. Foi seguida pelo cara do elevador. Malditas flores. Sentou, pediu uma cerveja e riu. De si. Da situação. Do quanto se deixara levar por um padrão de felicidade que não era o seu. Riu do vermelho na conta do banco. Riu do fato de que não tinha como pagar tanta coisa.
O homem pediu para se sentar do lado dela. Malditas flores.
Ofereceu mais uma cerveja. Ensaiou uma conversa. E contou que acabara de sair da casa da namorada, que agora era ex. Brigaram. Terminaram. Não eram mais um casal feliz do Facebook.
Conversaram mais. E mais. E riram cada um da situação do outro. Com sarcasmo, mas riram.
Ela ia embora. Depois da cerveja, quem sabe um vinho. Convidou-o. Ainda tinha uns filmes da época em que fingia ser cult. "E o vento levou" não era uma boa pedida, mas poderia tentar achar "Pulp fiction" em alguma prateleira.
Subiram.
Ela penou pra conseguir um namorado até o dia 12.
Conseguiu paz e um sorriso no rosto na manhã do dia 13.