Quem me conhece sabe que eu já proferi inúmeras vezes a frase "Queria ser rica só pra comer o que eu quisesse...Chegar assim num dia qualquer e dizer: vou ali almoçar num restaurante bacana com comida gostosa."
É verdade. Quero ser rica só pra isso.
Pra quem não me conhecia, ou me conhecia pouco, agora já sabe pelo menos minha maior ambição: ser rica só pra comer bem. E aí eu vejo uns quadros do Fantástico, do Bem Estar ou da Ana Maria Braga que tentam nos iludir dizendo que se alimentar bem não custa caro. Mostram uma feira livre, com frutas e verduras fresquinhas e baratas, nas quais os repórteres ainda pechincham e conseguem descontos maiores.
Vocês acham que Ana Maria almoça um quiabo de feira? Uma sardinha com farofa? Uma fruta da estação?
Ainda que almoçasse, dá pra fazer isso TODO SANTO DIA, produção?
Um abraço para Ana Maria, mas sinceramente, não dá não. Com o pastel a R$ 2,00 não tem cristão que se desloque pra feira de São Joaquim ou pra Ceasinha pra comer fruta meio dia!
Comer bem é caro, e por isso mesmo eu desenvolvi um gosto peculiar em restaurantes e bares. Só olho a parte direita do cardápio, onde estão os preços. Sim, apenas a parte direita, pois o que os olhos não veem o coração não sente. E o engraçado é que os cardápios de alguns bares passaram a desenvolver uma modalidade de coação com o nome dos pratos. É impressionante! Todos os meus pedidos (sempre mais baratos) tem o nome de "Pão duro", "Sem graça", "Canguinha" etc... Já viram isso? Pense numa derrota que eu sinto ao pronunciar esses nomes como meus pedidos! É por essas e outras que preciso ser rica.
Aliás, essa mania que tenho de só olhar o cardápio pelo lado direito já me rendeu grandes dissabores. Certa feita eu saí com um grupo de amigos e só tinha R$ 19,00 (DEZENOVE REAIS) na minha conta bancária. Tudo bem, estava entre amigos; caso me faltasse dinheiro alguém completaria a conta ou me emprestaria. Mas tentei não precisar. Por isso fui olhando os preços do cardápio e na minha cabeça eu tava pensando EXATAMENTE ASSIM:
"R$ 39,00, tá caro, nem sei o que é mas deve ser algo com camarão ou salmão ou filé...R$ 35,00, ainda caro...deve ser o mesmo camarão ou salmão só que menor e com menos coisa....R$ 29,00, não tem condições ainda de comer isso que eu nem sei o que é...fora que alguém terá de me emprestar dez reais e eu vou ficar sem nada...R$ 23,00, hum, deve ser alguma coisa de carne-do-sol, mas ainda pode melhorar o preço...R$ 18,00, começando a ficar bom, mas ainda pode melhorar....R$ 15,50, huuum agora sim tá chegando num nível legal..dá pra comer isso e só isso, sem beber nada, mas vamos continuar a procura por algo mais barato..." E assim por diante.
Lá no final do cardápio, dei uma olhadela e tinha lá o preço incrível de R$ 4,00. Pensei "deve ser um pastel então eu como, digo que não tava com fome (isso e sempre mentira) e ainda dá pra tomar um refrigerante!" Toda feliz já ia fazer o pedido, o que quer que fosse aquilo ali cujo preço eu analisava.
Então olhei o que era. Depressão. Angústia. Do lado esquerdo do cardápio havia a palavra "EMBALAGEM."
Só quem não tem dinheiro sabe o que é olhar no cardápio e ver que só teria condições de comprar cigarro, embalagem e mix de castanhas (que deve ter uns 10g só). Só quem não tem dinheiro sabe o que é ir ao shopping e ficar olhando "Amor aos pedaços", "SOHO", "Il pollo" e acabar comendo um "baratíssimo" sem refrigerante na Subway.
Só quem não tem dinheiro sabe o que é riscar as palavras "salmão", "camarão", "lagosta", "filé" do vocabulário gastronômico e, consequentemente da dieta. Só quem não tem dinheiro sabe o que é pedir um prato barato e vir algo cujo ingrediente principal é ovo. Ovo, aquilo que em minha casa não pode nunca faltar.
Só quem não tem dinheiro sabe o que é ter de fingir que não tá com muita fome pra dividir um lanche com alguém e ficar mais barato. "Amiga, eu não como isso tudo não, vamos dividir?" É MENTIRA! EU COMO! Eu comeria dois pratos iguais dado o tamanho da minha fome, mas não tenho dinheiro.
Mas como "ser pobre é ser ousado" a gente sempre faz uma extravagância de vez em quando. Vai no Spaghetti Lilás. Aquele bando de comida a kilo te rodeando e pobre que é pobre mesmo faz o que? Vai colocar umas folhas de alface, que não pesa! Uma rúcula e um pouquinho de milho verde com uma rodela de palmito. Aí em vez de fazer um prato balanceado que nem os "de rico" - cada coisa em seu lugar, uma proteína, salada e um carboidrato - coloca no prato um pedaço daquela torta compacta de camarão (porque pobre que é pobre adora um camarão!), dois tipos de batata, frita e cozida (porque "incha" no estômago), arroz e feijão tropeiro (que é outra coisa que pobre adora). "Gostaria de um grelhado, senhora?" Não! O preço do quilo do grelhado é maior que o da comida normal!!
Enfim, preciso ser rica só pra comer bem. Meu sonho: Eu, linda, descendo de um carro com aquele canhão de luz em mim, vento nos cabelos e eu me dirigindo a um restaurante de comida gostosa. Eu sento numa mesa, olho o cardápio (DESTA VEZ DO LADO ESQUERDO) e vou vendo aquelas comidas maravilhosas com "ervas finas", "queijo gorgonzola" e essas coisas que deixam as comidas caras. Aí eu peço O QUE EU TIVER COM VONTADE acompanhado da bebida QUE EU QUISER...
Só que acordo.E depois de todas essas desventuras ainda tenho que ouvir nos programas de entrevista aquela pessoa famosa que quer se passar por modesta falando que o prato preferido dela é "arroz e feijão."
Enfim, comi uma comida muito ruim hoje e me senti tão triste que precisava desabafar. É isso.
Aos xiitas: Este é um texto pra ser engraçado. Sei que tem muita gente que é pobre de verdade e passa fome de verdade no mundo. Se você está me achando a pior das pessoas porque não escrevi algo com consciência social, desculpa, mas o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser. Quando for hora de coisa séria eu escrevo. Beyjos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário