domingo, 10 de junho de 2012

Dia dos namorados. Ou não.

Penou para conseguir um namorado até o dia 12.
Frequentou bares, restaurantes, shows, praia, shopping, estádios e até o botequim da esquina, onde o público alvo não passava de homens casados com mais de 50 anos, calvos e gordos.
Passou da fase da preocupação, da ilusão, da solidão até culminar com aquele desespero mórbido, típico dos carentes. Proferiu heresias - "vou ser sozinha e criar 52 gatos" - e até ameaças.
Se produziu e gastou dinheiro. Chapinha, escova progressiva, definitiva (que é, contraditoriamente, efêmera), inteligente, de chocolate, tailandesa e um sem número de hidratações, relaxamentos, luzes. E haja paciência. E haja revista Caras.
Achou que o problema era o corpo e foi pra academia. Gastou mais dinheiro. Corrida, aulas de suingue baiano, spinning, musculação, natação. E nada.
Resolveu investir no intelecto e passou a frequentar livrarias, galerias de arte, museus. Entrou no cheque especial. Dostoiévski, Marx, Jung e muito café pra acompanhar. E haja vontade de ler gibi e parar de fingir entender aquelas pinturas estranhas que ela tinha certeza que era só tinta jogada numa tela branca.
Cansou.
E, quando enfim se cansou, justo no dia 12, deitou em sua rede na varanda para fumar o cigarro das 23h e ouvir música. Mozart. Não, Tchaikovsky. Botou um disco de Caetano. E parou pra pensar nos casais felizes dos comerciais da TV e do Facebook. Tão bonitos, inteligentes, bem-sucedidos. Sem problemas, aparentemente. Filhos, carreira e uma vida tão organizada quanto uma fila japonesa.
E ela sozinha no apartamento de 85 m².
Decidiu sair. Pegou a chave do carro. A chave caiu mais de uma vez no chão. Xingou mais de uma vez ao ver a chave cair. Chutou a chave. Resgatou-a novamente e partiu.
Revolta, indignação e aquele espelho do elevador que vivia dizendo o quanto ela não era feliz sozinha. Queria quebrar aquele espelho.
Foi quando ele entrou. Ela ensaiou um sorriso. Saiu péssimo. Ele retribuiu com a mesma falta de sinceridade. Cumprimentaram-se sem querer saber um do outro. Ele com flores machucadas na mão. Raiva no olhar. Ela saudosa das flores que nunca tinha recebido. Ignorou aquelas rosas que faziam complô contra ela. Ia beber muito.
Tomou o caminho do botequim da esquina. Foi seguida pelo cara do elevador. Malditas flores. Sentou, pediu uma cerveja e riu. De si. Da situação. Do quanto se deixara levar por um padrão de felicidade que não era o seu. Riu do vermelho na conta do banco. Riu do fato de que não tinha como pagar tanta coisa.
O homem pediu para se sentar do lado dela. Malditas flores.
Ofereceu mais uma cerveja. Ensaiou uma conversa. E contou que acabara de sair da casa da namorada, que agora era ex. Brigaram. Terminaram. Não eram mais um casal feliz do Facebook.
Conversaram mais. E mais. E riram cada um da situação do outro. Com sarcasmo, mas riram.
Ela ia embora. Depois da cerveja, quem sabe um vinho. Convidou-o. Ainda tinha uns filmes da época em que fingia ser cult. "E o vento levou" não era uma boa pedida, mas poderia tentar achar "Pulp fiction" em alguma prateleira.
Subiram.
Ela penou pra conseguir um namorado até o dia 12.
Conseguiu paz e um sorriso no rosto na manhã do dia 13.


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