Me considero uma pessoa muito feliz. Muito mesmo. E se você me perguntar se sou feliz para sempre, mesmo quando um ônibus joga em mim aquela água da chuva que acumulou no asfalto eu vou dizer que sim. Continuo sendo feliz. Pra mim estar feliz é quase como estar viva. Simples.
E você? Quer ser feliz? Quer mesmo? Então pára de assistir televisão. Desconsidere as propagandas e as novelas. Sério.
As propagandas estão a todo momento mandando você ser feliz. Mas não é dizendo pra você ser feliz com o que tem ou com o que se é. É ser feliz com o carro novo da FIAT que tem o melhor motor da categoria e foi eleito duas vezes consecutivas o carro do ano. É ser feliz com a magreza própria dos seres esqueléticos que circulam por algumas passarelas mundo afora. Ser feliz é ter o guarda-roupa cinco portas por apenas R$ 599,00 da promoção da Insinuante que é só até amanhã (e tem todo dia).
Uma vez eu vi uma frase que dizia mais ou menos que a gente vive tanto QUERENDO a felicidade que muita vezes já temos. A gente nem sabe o que é isso direito! Se felicidade é bem estar pleno, aquele cochilo na rede depois do almoço de domingo é felicidade. Não estar doente é felicidade.
Mas gente não sabe o que é e ainda complica! E as novelas, as propagandas os filmes, os contos de fadas, tentam vender uma ideia de que felicidade é algo que se alcança quando todos os desejos são realizados: o marido perfeito, filhos bonitos e saudáveis, a casa dos sonhos, o carro da FIAT que foi eleito duas vezes o carro do ano, uma sogra bacana, comidas feitas por um Chef todo dia, viagem de fim de ano todo ano para o lugar que quiser.
E dinheiro? Este é imprescindível em qualquer felicidadezinha mixuruca.
Esses dias mesmo eu estava vendo a novela " Cheias de Charme" e tem uma personagem chamada Cida, que cresceu sendo empregada dea casa de um advogado milionário chamado Sarmento, onde a mãe dela também tinha sido. Ela grava um vídeo com as amigas, faz sucesso como "Empreguete" e consegue fama e dinheiro. Mas para a Globo não basta isso. Ela vai ter que ser filha de Sarmento para ser plenamente feliz.
O mesmo caso da outra novela, que tinha Pereirão, uma mulher que trabalhava como "faz-tudo" e trocava até pneu. Apesar de ser feliz sendo pobre, a protagonista tinha de ser feliz sendo milionária, tendo uma casa bacana, carrão, sendo empresária e tudo o que tem direito.
E o que mais me intriga nas duas é que tanto Cida quanto Pereirão tinham homens apaixonados por elas quando pobres. No entanto, elas só poderão viver o conto de fadas pós-moderno e feliz se estiverem com dois milionários: uma com o filho de um milionário, a outra com um renomado chef de cozinha.
E não me perguntem porque é que elas simplesmente não ficaram com os homens pobres que as amavam desde sempre. Para os autores de novela não pode haver final feliz ao lado do dono de um bar. No máximo, se o público gostasse muito dele, seria inventada uma herança milionária no último capítulo e aí sim: felicidade!
Só dizendo uma coisa a vocês: não vão por aí não. Ou vocês vão viver para sempre se lamentando por não ter o carro da propaganda da FIAT, o sorriso perfeito e branco da propaganda da COLGATE, o cabelo da propaganda LORÉAL e a pele da propaganda da AVON.
Eu já abandonei as propagandas. Vou continuar com meu sorriso meio torto, meu apartamento alugado, o ônibus de todo dia e a pele cheia de "pé de galinha" (que minha mãe, sábia, já disse que é porque a gente ri muito e fica assim).
P.S. Um dia terei um carro, mas ele não será minha felicidade. Ela é melhor que o melhor motor da categoria.