domingo, 22 de julho de 2012

Felicidade e propaganda.


Me considero uma pessoa muito feliz. Muito mesmo. E se você me perguntar se sou feliz para sempre, mesmo quando um ônibus joga em mim aquela água da chuva que acumulou no asfalto eu vou dizer que sim. Continuo sendo feliz. Pra mim estar feliz é quase como estar viva. Simples.

E você? Quer ser feliz? Quer mesmo? Então pára de assistir televisão. Desconsidere as propagandas e as novelas. Sério.

As propagandas estão a todo momento mandando você ser feliz. Mas não é dizendo pra você ser feliz com o que tem ou com o que se é. É ser feliz com o carro novo da FIAT que tem o melhor motor da categoria e foi eleito duas vezes consecutivas o carro do ano. É ser feliz com a magreza própria dos seres esqueléticos que circulam por algumas passarelas mundo afora. Ser feliz é ter o guarda-roupa cinco portas por apenas R$ 599,00 da promoção da Insinuante que é só até amanhã (e tem todo dia).

Uma vez eu vi uma frase que dizia mais ou menos que a gente vive tanto QUERENDO a felicidade que muita vezes já temos. A gente nem sabe o que é isso direito! Se felicidade é bem estar pleno, aquele cochilo na rede depois do almoço de domingo é felicidade. Não estar doente é felicidade.

Mas gente não sabe o que é e ainda complica! E as novelas, as propagandas os filmes, os contos de fadas, tentam vender uma ideia de que felicidade é algo que se alcança quando todos os desejos são realizados: o marido perfeito, filhos bonitos e saudáveis, a casa dos sonhos, o carro da FIAT que foi eleito duas vezes o carro do ano, uma sogra bacana, comidas feitas por um Chef todo dia, viagem de fim de ano todo ano para o lugar que quiser.

E dinheiro?  Este é imprescindível em qualquer felicidadezinha mixuruca.

Esses dias mesmo eu estava vendo a novela " Cheias de Charme" e tem uma personagem chamada Cida, que cresceu sendo empregada dea casa de um advogado milionário chamado Sarmento, onde a mãe dela também tinha sido. Ela grava um vídeo com as amigas, faz sucesso como "Empreguete" e consegue fama e dinheiro. Mas para a Globo não basta isso. Ela vai ter que ser filha de Sarmento para ser plenamente feliz.

O mesmo caso da outra novela, que tinha Pereirão, uma mulher que trabalhava como "faz-tudo" e trocava até pneu. Apesar de ser feliz sendo pobre, a protagonista tinha de ser feliz sendo milionária, tendo uma casa bacana, carrão, sendo empresária e tudo o que tem direito.

E o que mais me intriga nas duas é que tanto Cida quanto Pereirão tinham homens apaixonados por elas quando pobres. No entanto, elas só poderão viver o conto de fadas pós-moderno e feliz se estiverem com dois milionários: uma com o filho de  um milionário, a outra com um renomado chef de cozinha.
E não me perguntem porque é que elas simplesmente não ficaram com os homens pobres que as amavam desde sempre. Para os autores de novela não pode haver final feliz ao lado do dono de um bar. No máximo, se o público gostasse muito dele, seria inventada uma herança milionária no último capítulo e aí sim: felicidade!

Só dizendo uma coisa a vocês: não vão por aí não. Ou vocês vão viver para sempre se lamentando por não ter o carro da propaganda da FIAT, o sorriso perfeito e branco da propaganda da COLGATE, o cabelo da propaganda LORÉAL e a pele da propaganda da AVON.

Eu já abandonei as propagandas. Vou continuar com meu sorriso meio torto, meu apartamento alugado, o ônibus de todo dia e a pele cheia de "pé de galinha" (que minha mãe, sábia, já disse que é porque a gente ri muito e fica assim).

P.S. Um dia terei um carro, mas ele não será minha felicidade. Ela é melhor que o melhor motor da categoria.



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quanto mais "sem graça" mais graça.

Sou fã de tropeções.

Uma exímia colecionadora de gargalhadas ao ver aquela mulher de salto alto tropeçar na rua. E ficar sem graça ao se recompor.

Adoro erros imprevisíveis. A cara do juiz ao gaguejar em sua primeira audiência. A cara do advogado empertigado e arrumadinho ao descobrir que tem alface no dente. A cara do professor robótico ao ser visto tirando meleca.

E por que isso?

Existe algo mais "vivo" que uma feição sem graça? Neste mundo de orgasmos homéricos e gargalhadas torpes tão verdadeiros quanto uma nota de 3 reais, talvez a expressão "sem graça" seja a que ninguém consegue fingir. Fingir a vermelhidão no rosto, o suor frio nas mãos, aquela olhada disfarçada pro lado pra ver se alguém o pegou no flagra. Ninguém consegue.

Até mesmo aqueles que se gabam de sua postura galhofeira e desavergonhada ficam sem graça.
E por ficar sem graça disfarçam.
E no disfarçar é que se mostram.

E nos romances e nas apaixonações dessa vida, o que me agrada não é a segurança irrestrita ou a confiança absoluta, sérias e imóveis. Não. Nada disso me deixa mais satisfeita do que perceber o olhar desviado, as mãos trêmulas, a negativa de sentimento acompanhada do medo de ser pego e de ter exposta uma vulnerabilidade indesejável.

Por isso estou sempre atenta. Ao mínimo sinal de um sorriso amarelo e de uma rosto vermelho, lá estou à espreita. E não evitarei o olhar de "eu sei o que você estava fazendo", pois quanto mais esse olhar mais sem graça e quanto mais sem graça mais graça.

É. Também sou fã de trocadilhos.

Vixe, fiquei sem graça agora.



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dedicado aos homens. Feito para mulheres.

Este meu texto é destinado a vocês homens, com os quais convivo ou não, e se baseia em uma conclusão que me chegou à mente quando eu tinha uns 16 anos. Aliás, não é só uma conclusão não. É uma indignação.

Com certeza todos vocês já disseram que não se consegue entender uma mulher. Que mulher é contraditória (uma hora quer, outra não quer), volúvel, instável, fugaz e todos os adjetivos que denotam a indeterminação da mulher na tomada de decisões.

E eu vou dizer aqui com todas as letras o porquê disso: HOMENS.

Desde o começo do mundo os homens pensam que dominam tudo. Só que não. O fato de trabalharem fora desde as cavernas e caçar bichos ferozes, manejando armas de pedra lascada fez vocês, homens, acharem que o trabalho de vocês era mais importante que o da mulher, O Sexo Frágil.

Beleza.

Passou a antiguidade e vocês começaram a exigir que a mulher ficasse em casa cuidando dos filhos, da casa, do serviço doméstico e de vocês. Sem pagar por isso. E aqui eu vou dizer uma coisa que vocês podem nem  suspeitar, mas basta encarar uma droga de uma pia cheia de prato pra saber: o serviço dentro de casa não pára! Só se você morar só e decidir usar pratos, copos e talheres descartáveis.

Enfim. Vocês decidiram que era assim e as mulheres de  Atenas aceitaram. Aí lascou-se.

Só que de uns tempos pra cá, por causa de VOCÊS surgiu o movimento feminista que queimou sutiã e modificou a história feminina. Antes as mulheres tinham que cuidar da casa, dos filhos, do marido, do serviço doméstico, coordenar as atividades dos empregados da residência etc.

Hoje, as mulheres cuidam da casa, dos filhos, do marido, do serviço doméstico, coordenam as atividades dos empregados da residência e TRABALHAM FORA.  E ainda por cima, não bastasse tudo isso, vocês querem que a mulher QUE TRABALHA COMO UMA CONDENADA, esteja sempre sexy e fogosa o suficiente para uma noitada de sexo selvagem.

Mas você pode me dizer: hoje em dia não é mais assim pois há muitos homens que ficam dentro de casa enquanto as mulheres trabalham fora. É exceção! Isso aqui não é o Globo Repórter, senão eu estaria falando de como vivem os albatrozes do atol de Fernando de Noronha (não sei se existe isso). Estou falando da regra, do que comumente acontece.

Aí beleza. Veio o trabalho fora de casa e aí foi massa porque ficamos independentes e destemidas. Os homens começaram a dizer que valorizam mulheres inteligentes, independentes, autoconfiantes.

Mentira pura! Sabe por quê? Porque vocês se assustam com mulher assim. Falam que adoram uma mulher aventureira e impulsiva, mas se alguma te chamar pra sair você não vai e se te oferecer uma cerveja no boteco da esquina vai receber um olhar de "Tá fácil demais". 

E aí vem minha descoberta: às vezes nem as mulheres se entendem no campo das conquistas porque vocês nos confundem a respeito do que querem da gente!

É fácil dizer que a mulher tem que ser determinada, autoconfiante, deve ter autoestima, ser independente (inclusive financeiramente), inteligente, impulsiva, sexy, mas sem ser forçada. Tem que saber rir, contar piada, tomar cerveja e ser espontânea.

Aí a mulher dá em cima de você e é tida por "fácil".
Usa umas roupas pra se sentir sexy pra você e é tida por "piriguete".
É inteligente e autoconfiante e é tida por você como "metida".
Conta piada, fala palavrão, e é tida por você como "baixo astral".

Produção? Quem é confuso mesmo?


P.S.  Só um conselho: Mulheres, sejam vocês mesmas, independente do que a maioria dos homens - seres cuja inteligência lhes legou o trabalho braçal ao longo da história - pensa! Todos eles sabem que no fundo no fundo a gente é que resolve tudo e decide tudo mesmo. Alguns ainda negam e fingem que acreditam que eles mandam e são os maiores fodões da história. Mas sabem que não são. Não se deixem enganar também. E o mais importante: deixem de agir como mulherzinhas, chamando umas às outras disso e daquilo e julgando a conduta de umas e de outras. Isso é coisa de homem imbecil.

domingo, 1 de julho de 2012

Sem "Princesa" e sem "Madrasta".

De todos os absurdos dos Contos de Fadas, tem uma coisa me deixa possessa!
Em TODOS eles, todos, sempre existem pessoas muito boas ou muito malvadas. Não existe meio termo. Ou você é a princesa ou você é a bruxa. Ou você é enjoada e canta com passarinhos que nem uma retardada no meio da floresta ou você simplesmente tem poderes mágicos das trevas e ministra veneno na comida das pessoas. 

Ninguém nunca ousou fazer um conto de fadas no qual a princesa desse um belo par de chifres ao príncipe, ou antipatizasse com os animais do castelo, ou não tivesse consciência do desenvolvimento sustentável do reino.
Ao mesmo tempo, pensemos nas madrastas/bruxas (um absurdo igualar os termos). Ninguém nunca fez uma história na qual ela doasse dinheiro aos pobres, ou frequentasse a Igreja todo dia, ou mesmo concedesse folga a suas empregadas sem perguntar o motivo. Ninguém.

E pensando nisso resolvi contar como seria um Conto de Fadas feito por mim.

Na minha história de conto de fadas ninguém seria naturalmente ruim ou naturalmente bom. Haveria um reino, pra mantar um certo ar de "vassalagem", cavalos, carroças e castelos (sempre gostei da ambientação dos contos de fada).

A princesa seria diferente. Primeiro porque não seria uma princesa propriamente dita...Na verdade ela seria uma plebeia, cidadã comum do reino, no auge dos seus 19 anos, e não era muito bela, nem muito delicada. Era normal e apreciava paquerar os rapazes da vila. Teve uns envolvimentos furtivos com o filho do padeiro ano passado e mantinha às escondidas um caso com o filho de um feirante que trazia especiarias. Seu pai nem imaginava esse tipo de conduta. Sua mãe - sim, na minha história a protagonista tem mãe - sabia, pois tinha ouvido das amigas fofoqueiras numa roda de costura. Não aprovava, tampouco recriminava a filha. Ela estava na idade pra essas coisas. Só se preocupava com o futuro dela: 19 anos e nada de casar! Nem um pretendente sequer. Um dia ainda daria um jeito nisso.

Ao lado da casa da família da Plebeia, vivia um Plebeu. Não era alto, forte nem tinha aquele cabelo liso e brilhoso que os príncipes dos contos de fadas normais tem e deixam esvoaçar no vento - numa atitude não heterossexual. Não. Ele era meio imaturo às vezes - já que tinha somente 25 anos - e não tinha estudado muita coisa na vida. Seus pais se preocupavam com seu futuro, sobretudo porque descobriram que ele nutria uma paixão pela Plebeia, sua vizinha, a qual era conhecida por todos como "piriguete" - nessa época já existia o termo. Plebeu era um bom rapaz, só não era muito estudioso. Mas gostava de Plebeia, embora namorasse outra plebeia, filha de uma costureira.

O fato é que as duas famílias se preocupavam mutuamente com o futuro dos filhos e acharam que seria bom que eles se casassem. Assim, sem nem ficar antes. Pois é. Antigamente era tudo rápido. Casariam em outubro, para quando chegasse o Carnaval eles já estarem com um relacionamento consolidado. A data foi acordada por dois motivos: a família de Plebeia queria evitar que eles terminassem por causa do carnaval, já que a filha não era fácil e com certeza daria um jeito de sumir; os pais de Plebeu, por sua vez, ficaram com medo de Plebeia arranjar uma gravidez indesejada no carnaval e certamente Plebeu jamais saberia se o filho era seu ou não.

Contrataram uma curandeira, que não era madrasta de ninguém mas tinha o domínio da arte das poções e xaropes. Essa curandeira prometia aliviar todo o tipo de doença, trazer a pessoa amada em 3 dias, curar frieza e frigidez sexual, entre outros. Pediram que ela unisse o casal, e assim foi feito. Ela fez os trabalhos, colocou na encruzilhada, mas em vez de colocar o nome dos dois, colocou seu nome e o do rapaz.

O Plebeu então se apaixonou pela curandeira, que era muito bonita e que gostou dele também. Os pais então deixaram que o filho se casasse com ela, pois sempre teriam a proteção dos búzios nos negócios. Quanto a Plebeia, depois de ter engravidado no carnaval e deixar o filho na casa dos avós, resolveu montar uma banda de trovadores medievais que corriam o mundo atrás de riqueza e amor fácil.

E todos viveram tentando ser felizes para sempre.

Fim.