De todos os absurdos dos Contos de Fadas, tem uma coisa me deixa possessa!
Em TODOS eles, todos, sempre existem pessoas muito boas ou muito malvadas. Não existe meio termo. Ou você é a princesa ou você é a bruxa. Ou você é enjoada e canta com passarinhos que nem uma retardada no meio da floresta ou você simplesmente tem poderes mágicos das trevas e ministra veneno na comida das pessoas.
Ninguém nunca ousou fazer um conto de fadas no qual a princesa desse um belo par de chifres ao príncipe, ou antipatizasse com os animais do castelo, ou não tivesse consciência do desenvolvimento sustentável do reino.
Ao mesmo tempo, pensemos nas madrastas/bruxas (um absurdo igualar os termos). Ninguém nunca fez uma história na qual ela doasse dinheiro aos pobres, ou frequentasse a Igreja todo dia, ou mesmo concedesse folga a suas empregadas sem perguntar o motivo. Ninguém.
E pensando nisso resolvi contar como seria um Conto de Fadas feito por mim.
Na minha história de conto de fadas ninguém seria naturalmente ruim ou naturalmente bom. Haveria um reino, pra mantar um certo ar de "vassalagem", cavalos, carroças e castelos (sempre gostei da ambientação dos contos de fada).
A princesa seria diferente. Primeiro porque não seria uma princesa propriamente dita...Na verdade ela seria uma plebeia, cidadã comum do reino, no auge dos seus 19 anos, e não era muito bela, nem muito delicada. Era normal e apreciava paquerar os rapazes da vila. Teve uns envolvimentos furtivos com o filho do padeiro ano passado e mantinha às escondidas um caso com o filho de um feirante que trazia especiarias. Seu pai nem imaginava esse tipo de conduta. Sua mãe - sim, na minha história a protagonista tem mãe - sabia, pois tinha ouvido das amigas fofoqueiras numa roda de costura. Não aprovava, tampouco recriminava a filha. Ela estava na idade pra essas coisas. Só se preocupava com o futuro dela: 19 anos e nada de casar! Nem um pretendente sequer. Um dia ainda daria um jeito nisso.
Ao lado da casa da família da Plebeia, vivia um Plebeu. Não era alto, forte nem tinha aquele cabelo liso e brilhoso que os príncipes dos contos de fadas normais tem e deixam esvoaçar no vento - numa atitude não heterossexual. Não. Ele era meio imaturo às vezes - já que tinha somente 25 anos - e não tinha estudado muita coisa na vida. Seus pais se preocupavam com seu futuro, sobretudo porque descobriram que ele nutria uma paixão pela Plebeia, sua vizinha, a qual era conhecida por todos como "piriguete" - nessa época já existia o termo. Plebeu era um bom rapaz, só não era muito estudioso. Mas gostava de Plebeia, embora namorasse outra plebeia, filha de uma costureira.
O fato é que as duas famílias se preocupavam mutuamente com o futuro dos filhos e acharam que seria bom que eles se casassem. Assim, sem nem ficar antes. Pois é. Antigamente era tudo rápido. Casariam em outubro, para quando chegasse o Carnaval eles já estarem com um relacionamento consolidado. A data foi acordada por dois motivos: a família de Plebeia queria evitar que eles terminassem por causa do carnaval, já que a filha não era fácil e com certeza daria um jeito de sumir; os pais de Plebeu, por sua vez, ficaram com medo de Plebeia arranjar uma gravidez indesejada no carnaval e certamente Plebeu jamais saberia se o filho era seu ou não.
Contrataram uma curandeira, que não era madrasta de ninguém mas tinha o domínio da arte das poções e xaropes. Essa curandeira prometia aliviar todo o tipo de doença, trazer a pessoa amada em 3 dias, curar frieza e frigidez sexual, entre outros. Pediram que ela unisse o casal, e assim foi feito. Ela fez os trabalhos, colocou na encruzilhada, mas em vez de colocar o nome dos dois, colocou seu nome e o do rapaz.
O Plebeu então se apaixonou pela curandeira, que era muito bonita e que gostou dele também. Os pais então deixaram que o filho se casasse com ela, pois sempre teriam a proteção dos búzios nos negócios. Quanto a Plebeia, depois de ter engravidado no carnaval e deixar o filho na casa dos avós, resolveu montar uma banda de trovadores medievais que corriam o mundo atrás de riqueza e amor fácil.
E todos viveram tentando ser felizes para sempre.
Fim.
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