Sou fã de tropeções.
Uma exímia colecionadora de gargalhadas ao ver aquela mulher de salto alto tropeçar na rua. E ficar sem graça ao se recompor.
Adoro erros imprevisíveis. A cara do juiz ao gaguejar em sua primeira audiência. A cara do advogado empertigado e arrumadinho ao
descobrir que tem alface no dente. A cara do professor robótico ao ser
visto tirando meleca.
E por que isso?
Existe algo mais "vivo" que uma feição sem graça? Neste mundo de orgasmos homéricos e gargalhadas torpes tão verdadeiros quanto uma nota de 3 reais, talvez a expressão "sem graça" seja a que ninguém consegue fingir. Fingir a vermelhidão no rosto, o suor frio nas mãos, aquela olhada disfarçada pro lado pra ver se alguém o pegou no flagra. Ninguém consegue.
Até mesmo aqueles que se gabam de sua postura galhofeira e desavergonhada ficam sem graça.
E por ficar sem graça disfarçam.
E no disfarçar é que se mostram.
E nos romances e nas apaixonações dessa vida, o que me agrada não é a segurança irrestrita ou a confiança absoluta, sérias e imóveis. Não. Nada disso me deixa mais satisfeita do que perceber o olhar desviado, as mãos trêmulas, a negativa de sentimento acompanhada do medo de ser pego e de ter exposta uma vulnerabilidade indesejável.
Por isso estou sempre atenta. Ao mínimo sinal de um sorriso amarelo e de uma rosto vermelho, lá estou à espreita. E não evitarei o olhar de "eu sei o que você estava fazendo", pois quanto mais esse olhar mais sem graça e quanto mais sem graça mais graça.
É. Também sou fã de trocadilhos.
Vixe, fiquei sem graça agora.
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