terça-feira, 14 de maio de 2013

Bolsa-esperança.


Neste nosso país tem tanta gente ruim que às vezes eu tenha plena convicção que Deus nos legou tantas belezas naturais como um prêmio de consolação. Porque em meio a florestas exuberantes e praias cujo mar é cristalino como vidro limpo, nada resiste à imundície que se observa no coração de algumas pessoas.

Refiro-me, obviamente, a todos aqueles que dia a dia fazem dos sonhos dos outros o sustentáculo de seus privilégios mais egoístas. Políticos.

Como toda generalização é burra, não posso me referir a todos eles. Há alguns, muito poucos, que tem verdadeiro talento, vocação, e um ideal que vai além dos seus caprichos. Minha fala, portanto, se relaciona com aqueles que preenchem grande parte dos espaços de poder do país que se diz Estado Democrático, onde todo o poder deveria emanar do povo.

“Mas o povo pode exercer o poder através do voto!” – dirão uns, provavelmente aqueles aos quais me referi anteriormente. O problema é que ninguém faz revolução de barriga vazia, muito menos quando sequer se sabe o que acontece no país. Aqui, como em tantos lugares desse mundo, ninguém tem a condição social que tem por acaso. Ninguém é carente por acaso. 
O estado de dependência das massas é algo assustadoramente proposital. A fome, a miséria, a falta de saúde ampla e de qualidade, a falta de educação, de escolas, o trabalho infantil, a seca, tudo isso são crias alimentadas diariamente pelo monstro da corrupção, mais conhecida como falta de caráter ou falta de vergonha na cara, num dizer mais simples.

O que eu acho mais triste no fato de existir a corrupção não é nem o dinheiro que é tirado dos cofres públicos para patrocinar farras, viagens, compras, moradias luxuosas dos políticos que agem assim. Para mim, que consigo trabalhar honestamente e viver em condições confortáveis, mas nada luxuosas, esse comportamento é digno de pena. Tenho raiva, sim, muita raiva de saber que pago todos os dias para o deleite de alguns poucos. No entanto, para mim tristeza é pior que raiva.

Fico genuinamente triste é de ver que as ações dessas organizações criminosas, algumas denominadas “partidos políticos”,  acabam por usurpar, destruir, pulverizar qualquer tipo de sonho que alguém porventura tenha em viver melhor. Usurpar um sonho é pior do que roubar dinheiro. É pior do fraudar uma licitação. Pior, muito pior do que aceitar propina. Fulminar a esperança de outrem é a coisa mais vil, mais cruel, que um ser humano pode fazer.

Mas continuam fazendo. Aos montes! Em todos os níveis, em todos os espaços, até mesmo naqueles em que a Justiça deveria prevalecer. E por quê? “Porque todo mundo faz, então eu faço também.”. “Porque também tenho direito de tirar ‘o meu’”., “Porque sempre foi assim e sempre vai ser.”.

Tenho outra tese, no entanto. Acho que isso continua ocorrendo no Brasil porque não tem sangue. Todos nós nos levantamos cheios de ódio e sentimento de vingança para julgar um assassino que tenha matado uma criança indefesa, mas não repudiamos de maneira tão severa aqueles que matam centenas de crianças todos os dias por terem desviado a verba que deveria ir para um hospital público. Nós bradamos, gritamos, jogamos objeto e fazemos dos homicídios e dos estupros os nossos piores inimigos, mas não enfrentamos aqueles que estupram a ética e que matam, sem qualquer tipo de arrependimento, qualquer chance de prosperidade dos que sofrem.

E o engraçado é que algumas pessoas acham normal que os políticos sejam ricos. Muitos deles não possuem nem diploma, nem nível superior, e são donos de verdadeiras fortunas, obtidas, coincidentemente, após o começo de seus mandatos. O que uns acham natural eu acho digno de, pelo menos, desconfiança. Isso talvez explique o asco com o qual eu assisto às propagandas eleitorais. Às promessas ridículas e falsas sobre um Brasil melhor, com seguranças, com saúde de qualidade e educação para todos.

Se um dia Deus se compadecer dessa situação, já que não creio tanto num levante popular, ele vai fazer com que cada político corrupto veja em pesadelos as faces daqueles que padecem por sua culpa. Eu queria mesmo era que, ao colocarem a cabeça em seus travesseiros de plumas de ganso, cobertos com uma fronha de algodão egípcio, que o conforto fosse o mesmo que deitar por cima de pregos a espetarem suas cabeças, de onde costumam sair ideias tão maquiavélicas.

Hoje eu entendo que o dinheiro distribuído pelo governo ao povo, sob a forma de "bolsa alguma coisa", e que antes eu achava um absurdo, é apenas uma forma de compensação absurda pelo furto de sonhos. Ridículo que sonhos possam custar tão pouco. Mas pior seria se pior fosse, ou seja, pior seria se não houvesse nem sonho nem nada.

Eu, de minha parte, fico no aguardo do bolsa-esperança, já que acreditar no futuro e nos políticos está cada vez mais difícil neste belo país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.

Um comentário:

  1. Texto interessante... Mas comportamentos assim normalmente estão de acordo com a cultura do local. Corrupção é algo que existe em qualquer país, só que a forma aberta e impune como se faz depende do que a população está "acostumada" a aceitar. "Cada povo tem o governo que merece" é um dizer que se enquadra bem nessa situação.

    Só uma retificação: Estado Democrático não é aquele onde todo o poder emana do povo. Democracia significa igualdade de direitos políticos, e não "o que a maioria decidir".

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