Quando me inscrevi para o vestibular da UFBA, em 2007, não tinha exata noção do que fazer. Aliás, durante toda a minha vida pensei em fazer Medicina (ideia concebida a partir do quão importante parecia meu tio vestido com um jaleco e do quão feliz parecia seguindo sua profissão). Fiz matéria isolada. Estudei Biologia, Física e Química a fundo. Desesperei-me com "Eletrodinâmica". E no dia que me inscrevi, marquei a opção "Direito".
Sem pretensão de fazer justiça, de mudar o mundo, de aplicar correta e honestamente a lei nesse país corrupto e desajustado. Não, não tinha assistido a nenhum filme americano de tribunal na noite anterior. Simplesmente desisti da Medicina e entrei no Direito. Falta de opção, talvez. Exemplos na família também tinha e a ideia de vestir trajes sociais e parecer elegante também me balançou, confesso.
Pois é. Aos que hoje me consideram ao menos interessada e gostando do que faço, está aí a verdade. Fazer Direito porque tem alguém na família e porque acha lindo roupa social. Não desanimem, não parem de confiar na minha "sensibilidade jurídica". Tampouco me julguem. Conheço gente que fez Direito porque acha que dá dinheiro fácil e é bem menos censurada.
Ao entrar na Faculdade, então, estudei sobre Filosofia do Direito. O que é o Direito? A quem serve? É uma ciência? É um fato social? É um objeto cultural (vide Henrique Aftalión)? Como interpretá-lo? Como aplicá-lo? O que posso fazer?
E descobri que entre a infinidade de teorias e a prática a distância é maior que a do Fórum Ruy Barbosa pra minha casa. Mas é só adentrar aquele espaço de poucos amigos que se sabe o que é Direito, sob os mais variados pontos de vista.
Para a funcionária da empresa terceirizada que limpa os gabinetes e secretarias, é mofo.
Para o desavisado que entra no Fórum furtivamente, é sisudez.
Para outros é papel. Muito papel. Resmas, calhamaços.
Para alguns juízes, promotores e advogados é ego.
Para alguns servidores é salário.
Para as partes é esperança.
Quanto a mim, não tenho muita ideia do que ele é não. Talvez um misto de tudo aí em cima. Embora eu não saiba o que esperar dele, de fato, sei o que queria que ele me oferecesse em troca de petições tecnicamente perfeitas e bem acabadas e honestidade na conduta.
Eu quero que ele seja prazeroso, como uma tarde de pôr-do-sol na Ribeira tomando sorvete de coco verde. Que simbolize um mínimo de justiça açucarada. Que trate os outros com ternura. Que seja menos engravatado, menos chato, menos ranzinza. Quero que o Direito seja meu amigo e me pague uns cafezinhos (e nisto se resume meu salário). Quero um Direito que me inspire. Que me mostre um pouco do que eu vim aqui fazer. Que me dê vontade, desejo. Nem por isso um Direito fajuto, mal feito, injusto, omisso, covarde. Um Direito menos opressor, que prefira as janelas abertas em vez do ar condicionado cheio de ácaros. Que prefira o amarelo aos tons de cinza e os sorrisos aos cumprimentos falsos vossa excelenciados.
O que eu quero dele, eu já sei.
Resta saber o que ele quer de mim.
(daqui a um semestre eu começo a descobrir)
Muito bom o seu texto ,parabéns! Eu me reconheço um pouco nessas linhas ...
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