quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Carta de um astronauta.




"Estávamos em uma expedição sigilosa em busca de desconhecidos. Desenvolvemos um projeto de mapeamento e reconhecimento de galáxias em que houvesse maior probabilidade de encontrarmos vida. Nosso objetivo, aliás, não era apenas encontrar vida -  esta já comprovada pela existência de seres microscópicos em um planeta vizinho ao nosso. Procurávamos vida inteligente e com ela a demonstração de que não estávamos sós. Mais que isso: queríamos a chance de aprender (e quem sabe ensinar) com nossos novos amigos.

Numa das galáxias mais próximas encontramos um planeta em condições semelhantes ao nosso. Ficamos completamente ansiosos quando verificamos que as condições climáticas e atmosféricas também se assemelhavam às nossas. Estávamos a um passo de finalizar nossa busca. Mal pude me conter! Manobramos a nave para que ficasse próxima, mas a uma distância segura o suficiente: não sabíamos o que esperar dos nossos vizinhos alienígenas.

Num susto tremendo, um satélite artificial passou perto da nave. Era a nossa prova! Somente um ser intelectualmente desenvolvido poderia criar um satélite daqueles. Tentamos uma conexão com o satélite. Não conseguimos. No entanto, verificamos que tínhamos acesso aos dados. Vídeos, fotografias, coordenadas, em suma, tínhamos o mapa do planeta e a possibilidade de ver, mesmo à distância, tudo o que acontecia ali.

E o que vimos nos deixou completamente embasbacados.

Os seres desenvolvidos não tinham um aspecto tão repugnante quanto pensávamos. Eram até simpáticos, vez que não ostentavam aqueles olhos desproporcionais e corpos esquálidos e altos. Ficamos felizes com a descoberta e até envergonhados: sempre achávamos que um alienígena teria aparência feia, mas estes não tinham. Eram diferentes, sem dúvida. Mas não causavam espanto.

O planeta era bonito. Pequeno, mas vasto ao mesmo tempo. Também padecia das mesmas intempéries que o nosso: vulcões, furacões, atividade sísmica. Mas era bonito. Abrigava algumas espécies, assim como no nosso. Mas ficamos surpresos mesmo com o nível de desenvolvimento do planeta : os alienígenas haviam feito construções semelhantes às nossas, embora utilizando uma tecnologia mais rudimentar.

Daríamos por encerradas as buscas. Voltaríamos ao nosso planeta com a sensação de missão cumprida. Nossos governantes se preparariam para o primeiro contato oficial com os alienígenas. A diplomacia interplanetária inauguraria uma teia de relações jamais vista entre civilizações de planetas diferentes. Aprenderíamos com eles a aperfeiçoar nossa ciência, bem como poderíamos, eventualmente, ensinar algo.

Então uma cena chamou-nos a atenção.

Observamos atentos a imagem de um artefato semelhante a uma bomba destruir uma das colônias de alienígenas. E, por incrível que pareça, o artefato foi enviado por outra colônia. Pensávamos se tratar de uma disputa por territórios ou recursos - já que parecem ser escassos por lá. Todavia, parecia não haver motivo para aquele massacre.

Em outra tela visualizamos uma região do planeta diferente das outras. Não tinha recursos, não tinha natureza. Parecia o vácuo. Tinha apenas um grande número de seres sobrevivendo em condições de extrema miséria. Eram párias naquela sociedade. E eram muitos. Em pouco tempo observando a tela, sentimos verdadeiro asco dos que tanto tinham e nada partilhavam com aqueles mendigos da vida.

Para alguns de nós ainda era um planeta promissor. Havia um grande potencial energético e riquezas sem fim. Era de uma beleza encantadora e ainda imaculada em muitos locais. Mas a espécie que o habitava era digna de pena e, talvez pela existência de tantas línguas e dialetos, não entendiam uns aos outros.

Onde procurávamos evolução, encontramos guerra. Onde procurávamos vida inteligente encontramos apenas vida. Ainda nos sentimos sós. Resta-nos observar por mais tempo. Quem sabe um dia os humanóides estejam prontos."


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