Era uma vez um reino muito muito distante chamado Reino dos Sérios. Os habitantes deste reino não sabiam sorrir. Não se sabe ao certo se por falha mecânica na contração da musculatura da face ou se por falta de costume mesmo. Uns dizem que é porque ninguém jamais experimentou fazê-lo e assim as crianças não aprenderam com seus pais, que por sua vez também não aprenderam com os seus e assim sucessivamente.
O que se sabe é que não há piadas, nem risos pelos cantos. Os sérios se cumprimentam, conversam e não contam piadas. Jamais. Piadas são terminantemente proibidas pela lei do Reino, mas nem necessitava tanta proibição: uma vez que ninguém sabe rir as piadas perdem seu objeto e ficariam sempre vazias de sentido.
Uma vez, um dos sérios foi embora para um Reino vizinho e descobriu o sorriso. Ficou maravilhado com a perfeição do artefato. Não conseguiu reproduzir com perfeição o sorriso visto, mas tentou e viu que conseguia ensaiar ao menos um sorriso sem graça. Depois de pouco tempo já estava rindo. Por que não havia isso no Reino dos Sérios? Que mal fazia a libertação do riso?
Decidiu voltar ao Reino e contar a seus compatriotas sobre a existência do riso. Ainda não sabia fazer muito bem, mas levou embalado num papel de pão um riso de criança brincando. Os Sérios ficaram EMBASBACADOS! O que era aquilo? Por toda a cidade espalhou-se a notícia do riso. Até que o rei soube e mandou investigar.
A verdade é que o povo gostou tanto do riso que queria comprar. Sorrisos e gargalhadas passaram a ser contrabandeados. O preço variava: 5 o sorriso tímido, 8 o sorriso sincero, 20 a gargalhada rápida, 40 o sorriso apaixonado e 80 a crise de riso. Pessoas ficaram viciadas nos risos. Cada vez mais sérios iam para o reino vizinho pegar uma nova carga. A segurança do reino passou a prender e mandar enforcar sérios traficantes.
Só que o tráfico de risos aqueceu a economia. Os traficantes começaram a ganhar muito dinheiro com os risos e a comprar cada vez mais produtos do reino. As pessoas trabalhavam mais satisfeitas após uma sessão de riso. E o rei foi percebendo que os risos poderiam ser bem lucrativos.
Campanhas pela legalização do riso começaram a eclodir. A revolução para legalizar o riso tomou força. E o rei foi perdendo a popularidade, o que não era desejável. Estudos sobre os benefícios do riso para a Medicina apareceram. O riso ficou conhecido pela propriedade de causar emagrecimento e aumentar o tônus muscular do abdômen. Descobriu-se que o riso fazia bem pro coração. E aí já era. O rei só tinha a possibilidade de aceitar o riso.
Então surgiu uma saída brilhante. O rei decidiu que não deveria haver mais o tráfico do riso e então concedeu o direito à colheita do riso próprio. Cada um poderia rir o quanto pudesse, mas somente se o riso fosse seu. Estava proibida a compra de sorrisos alheios, independentemente do valor/qualidade do riso. Os sérios passaram a praticar o sorriso e alguns já conseguiam até rir deliberadamente, quase gargalhando.
Então não se vendia mais o riso engarrafado. Sorrisos sem graça ou tímidos, a mercadoria mais barata, sumiram e só havia lugar para risos e gargalhadas espontâneos e sinceros. Algumas pessoas continuavam a obter sorrisos alheios, mas tinham direito a isso: o Rei estabeleceu que o sorriso pertencia a quem o causasse.
Como ninguém queria ficar privado de riso, deixando apenas que outras pessoas os causassem, os sérios começaram a cultivar o riso de si mesmos. E cultivando o riso de si e para si mesmos viram que os efeitos eram semelhantes ao de possuir risos alheios.
Dizem que nunca houve um reino mais feliz, mas como tudo na história um dia se acaba, o Reino dos Sérios teve sua derrocada com o apogeu da civilização "Polida". Estes ainda resistem aos sorrisos gratuitos. E embora o Reino tenha acabado, sua população só se multiplicou e em todos os lugares do mundo é possível vê-los sorrindo e causando sorrisos alheios.
E eles são felizes para sempre.
Então não se vendia mais o riso engarrafado. Sorrisos sem graça ou tímidos, a mercadoria mais barata, sumiram e só havia lugar para risos e gargalhadas espontâneos e sinceros. Algumas pessoas continuavam a obter sorrisos alheios, mas tinham direito a isso: o Rei estabeleceu que o sorriso pertencia a quem o causasse.
Como ninguém queria ficar privado de riso, deixando apenas que outras pessoas os causassem, os sérios começaram a cultivar o riso de si mesmos. E cultivando o riso de si e para si mesmos viram que os efeitos eram semelhantes ao de possuir risos alheios.
Dizem que nunca houve um reino mais feliz, mas como tudo na história um dia se acaba, o Reino dos Sérios teve sua derrocada com o apogeu da civilização "Polida". Estes ainda resistem aos sorrisos gratuitos. E embora o Reino tenha acabado, sua população só se multiplicou e em todos os lugares do mundo é possível vê-los sorrindo e causando sorrisos alheios.
E eles são felizes para sempre.
Mari, não há como não sorrir muito com este texto seu! Se algum dia eu fui do Reino dos Sérios, você me fez acabar de desertar.
ResponderExcluirBeijos,
Leo