- Ai amiga, não sei como é que você tem coragem de fazer isso!
- O quê, luzes?
- Não né.....Trair seu marido.
Tinha falado tão baixo, mas tão baixo, que nem o cabeleireiro nem a amiga escutaram.
- Anh?
- Trair seu marido! - Ainda era baixo, mas agora fez um gesto com os dedos, simulando chifres.
- Ah tá...Que nada, menina. Todo mundo faz isso hoje em dia. É normal.
- Normal?
- É, ué. É que nem perder virgindade. Você fica preocupada com aquilo, acha que vai estragar tudo, que não vai dar certo. Depois da primeira vez fica mais tranquila.
Recebeu um olhar de reprovação da amiga. Ambas olhavam uma revista de penteados.
- Não sei como pode achar isso normal.
- O quê, esse penteado com topete?
- Não. Você trair seu marido.
- Grande coisa, meu amante também trai a mulher.
- O QUÊ?
Falou tão alto que duas outras mulheres, 4 cabeleireiros, 3 manicures e uma gerente olharam na mesma direção.
- Ele é casado? - cochichou.
- É, menina.
- Esse mundo tá perdido mesmo...Absurdo!
- Vai dizer que você nunca ficou com mais ninguém durante seu casamento.
- Não! Claro que não!
- E acha que seu marido também não.
- Claro que não!
- Hahahahahaah! Sério que você ainda se ilude?
- O Júlio não me trai, amiga.
- Eu comecei assim.
- Assim como?
- Descobri que o Paulo César me traía. Traí a primeira vez pra dar o troco. E acabei gostando.
- Então ele bem que mereceu né? Mas por quê você continuou?
- Descobri o bem que isso faz pro relacionamento.
- Como assim?
- Nós estamos casados há uns 15 anos, amiga. Já não é mais a mesma coisa. Principalmente na parte da cama, né...Sabe como é. O Paulo não tem mais aquela energia de antes e pior: começou com uma crise de meia idade. Todo homem chega nessa fase de ver que tá ficando velho e começar a tentar se "ajeitar". Era um tal de clareamento dentário pra cá, peeling pra lá. Começou a pintar o cabelo. Mas o ápice mesmo foi quando eu peguei ele chorando no banheiro, com uma pinça na mão, na qual estava agarrado um pêlo branco. Era do peito.
- E aí?
- Aí que ele não ia admitir nunca que estava ficando velho. Pra se "reafirmar" no mercado, começou a sair com a secretária, que é uns 15 anos mais nova que ele.
- E você não ficou com ciúme?
- Fiquei claro, mas aí ele comprou pra gente uma segunda lua de mel em Cancún. Ele melhorou 100%. Passou a me levar mais pra sair, me agradar mais. Gostei.
- E aí começou a trair ele?
- Só no último dia de Cancún, quando eu conheci o Ramón, massagista do hotel.
- Hahahaha. Sério?
- Sério.
- E agora está saindo com um homem casado.
- Sim. Mais dia menos dia a mulher dele vai perceber que faz bem. Ele comentou que vai levá-la pra Vegas.
- Uau.
- Pois é.
- E quando você tá com ele você não lembra do Paulo César?
- Lembro. Por exemplo, outro dia fomos naquele motel perto do Aeroporto, sabe onde é? Um que eu fui com o Paulo César na nossa primeira vez.
- Sei! Você me contou isso...E ao entrar no motel você lembrou dele?
- Não, menina. A gente entrou, ele me ofereceu algo pra beber. Whisky.
- O Paulo César adora whisky, né?
- É, mas eu nem pensei nisso. Continuando, ele colocou uma música da nossa época.
- A que você tinha dançado com o Paulo César naquele bailinho.
- Não! A gente ficou lá dançando.
- Ih....aí vem.
- Aí sabe aquela cama redonda e enorme?
- Sei!
- Pois é. Foi aí que eu lembrei da barriga do Paulo César.
Seguraram o riso. Olharam-se. Agora eram cúmplices daquela traição. Riram abafado. Depois de alguns minutos a amiga voltou à fisionomia séria.
- Um absurdo!
- O quê? Esse negócio de eu ter um amante?
- Não, menina, o preço dessas luzes! Não tá fácil pra ninguém,viu...
Mariana tudo bem? amei esse conto seu, rs! eu precisava de um conto pra apresentar em uma aula de redação e usei o seu porque achei magnifico! obg.
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