Estava eu voltando pra casa depois de um dia de faculdade e estágio. Cansada, com fome, ansiosa pra chegar em meu apartamento e tirar o sapato na área de serviço (porque jamais me furtarei deste pequeno prazer que é tirar um sapato apertado e pisar logo em seguida no chão frio). E foi pensando nesta vontade que eu acelerei o passo para chegar ao ponto de ônibus localizado na Avenida Tancredo Neves.
E tomei um susto.
Um pouco atrás de mim, um barulho incomum e inconfundível.
Um cavalo cortava a Avenida. Um cavalo numa das Avenidas comerciais mais importantes da cidade de Salvador. A beleza da cena me pegou desprevenida. Um cavalo corria no asfalto, seguindo o fluxo dos quadrúpedes motorizados. A aparição do animal não causava modificação no trânsito já tão caótico. As mesmas buzinas, os mesmos motoristas contrariados, o mesmo suceder de luzes no semáforo. Mas um cavalo corria por entre as fileiras de carros, preenchendo o espaço entre eles com rebeldia e coragem.
O cavalo sabe não fazer parte dessa natureza morta, dessa luta pela vaga na faixa ao lado, desse despejo de monóxido de carbono. Ele sabe. Ele sabe que seu lugar não é ali, mas continua correndo, continua deixando aquele rastro de vida e inconstância. Porque ele é um cavalo!
E ele é diferente dos companheiros de trânsito. O cavalo pode parar, pode correr até a exaustão, pode caminhar tranquilo pelas marginais da pista. O cavalo pode mudar de caminho, pode não seguir o fluxo. Ou pode seguir o fluxo de uma maneira completamente desgarrada. Ele pode até ser domesticado, mas sabe que também é de sua essência a força indomável do vento na crina castanha e que vez em quando será a hora de correr como se não fosse preciso chegar a lugar nenhum.
Um cavalo não corre mais que um carro, mas ali ele corria. Ali ele ganhava de todos. E talvez ali, algum motorista emburrado tenha proclamado o desejo de ter um cavalo e chegar em casa mais cedo e tirar o sapato apertado num chão gelado qualquer. Talvez não. Talvez ninguém tenha reparado na cena do cavalo que corria na Avenida, ou apenas tenha reparado pra reclamar da irresponsabilidade do dono do animal.
Pode ser que só eu tenha me visto naquela corrida audaciosa, atravessando triunfante uma pista cheia de mesmice e continuidade. E não é porque meu signo no horóscopo chinês é o cavalo - informação relevantíssima tirada de uma folha de bandeja do McDonald's: é porque às vezes tenho necessidade de correr na contramão das coisas e chamar atenção de quem passa pela vida como quem passa por uma avenida congestionada.
A beleza do cavalo correndo por entre as luzes traseiras dos carros me tomou até onde a vista me permitiu alcançá-lo. Depois ele sumiu. E imediatamente, antes de entrar no ônibus e ir pra casa, concluí que um carro pode ter em seu motor muitos cavalos de potência, mas todos eles juntos não tem a altivez de um só cavalo de verdade.
Pode ser que só eu tenha me visto naquela corrida audaciosa, atravessando triunfante uma pista cheia de mesmice e continuidade. E não é porque meu signo no horóscopo chinês é o cavalo - informação relevantíssima tirada de uma folha de bandeja do McDonald's: é porque às vezes tenho necessidade de correr na contramão das coisas e chamar atenção de quem passa pela vida como quem passa por uma avenida congestionada.
A beleza do cavalo correndo por entre as luzes traseiras dos carros me tomou até onde a vista me permitiu alcançá-lo. Depois ele sumiu. E imediatamente, antes de entrar no ônibus e ir pra casa, concluí que um carro pode ter em seu motor muitos cavalos de potência, mas todos eles juntos não tem a altivez de um só cavalo de verdade.
Ômiquá, sinhô, me deixe, viu... Esse saiberespaço é realmente pequeno... Procurando textos sobre esta metrópole lambuzada de dendê, acaba que dou de cara com uma colega do MPF... Ô Grória! Bom, se te apetecer, certa feita larguei o doce sobre outro ser indomável que percorre os becos e ladeiras desta bela e besta província. De nada. http://chorumelight.wordpress.com/2012/10/02/boato-reporter-jayme-figura/
ResponderExcluirAh, e parabéns pelo nível intergalático do blog!! Ainda sobre a cidade, receba música de excelente qualidade: http://www.youtube.com/watch?v=rDzbJ1UNVVY Há Braços!
ResponderExcluirAh, cabeça! Se ligue-se tombém na dica de cinema da Soterópolis: http://www.youtube.com/watch?v=b1Bv1BeoVzw Só não curte quem cheira Baygon. De nada.
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