Dia desses assisti ao filme "Troia", lançado já há bastante tempo - reflexo da absoluta falta de programas melhores para fazer mais a mania que me aflige de assistir a filmes repetidos. [Apenas a título de informação, saibam que este meu pequeno problema começou aos 6 anos de idade, quando todos os dias eu voltava da escola e assistia ao "Rei Leão". E eu chorava todos os dias porque todos os dias Mufasa morria.]
Pois bem, estava eu assistindo ao filme "Troia" e torcendo por Heitor - embora já soubesse que Heitor morreria em um duelo com Aquiles - quando o próprio Aquiles, falando com os gregos, disse a seguinte frase:
"Os deuses nos invejam. Eles nos invejam porque somos mortais, porque qualquer momento pode ser o ultimo. Tudo é mais bonito porque estamos fadados a isto."
No momento em que ouvi novamente esta frase, pus-me a pensar que de fato, a única coisa de que podemos nos vangloriar é de que somos mortais. Talvez, verdadeiramente, os deuses tivessem inveja dos humanos naquele período. A imortalidade, em que pese parecer uma grande virtude, invariavelmente tornaria tudo mais monótono.
Imagine que nada pode nos abalar e temos, de fato, todo o tempo do mundo para fazermos o que quisermos. Imagine acordar sabendo que não se pode morrer, que nada de mal pode nos tirar desse mundo, que estaremos sempre diante do mesmo amanhecer e faremos o que quisermos ou não faremos nada. Imagine acompanhar tudo e poder esperar por qualquer acontecimento durante uma eternidade, sem ter aquela sensação, que tenho com frequência, de que ou vamos em busca ou jamais teremos o desejado.
No entanto, embora o raciocínio seja exatamente este, o de que vida e morte se complementam pois apenas a presença desta dá sentido àquela, não acho que hoje os deuses teriam a mesma inveja de nós e de nossa sociedade tão sem tempo quanto sem vida.
Vivemos num mundo tão rápido e tão cheio de coisas a fazer que levamos a vida no automático. Acorda-se pensando no que vai vestir, comer, fazer, estudar. Quando se vê já é 12:00 e esquecemos o que fizemos de manhã, o que comemos, o que tínhamos planejado. Vivemos à espera do segundo próximo que acabará por passar e com ele responsabilidades e afazeres. Fazemos tudo. Eventualmente uma ou outra tarefa nos dá a frustração de ser adiada. Comemos rápido, dormimos mal, deixamos de cumprimentar as pessoas porque perderemos muitos minutos preciosos e talvez seja melhor virar o rosto e fingir que não vimos uns aos outros.
No entanto, ainda que tenhamos a plena consciência de que tudo está passando rápido demais ( e que você já está sendo chamado(a) de "tio" ou "tia"), fazemos planos. Sim, continuamos planejando. Ano que vem eu viajo. Mês que vem eu recomeço a praticar esporte. Semana que vem eu vou ao cinema. Amanhã eu ligo para aquela pessoa especial.
Deixamos a maioria das coisas que nos satisfazem de verdade para depois, um depois que pode não existir. Sabemos que tudo passa rápido, mas ainda temos a ilusão de que haverá no futuro algum tempo para que possamos fazer tudo que não podemos fazer agora, porque não há tempo. Cada segundo é precioso. As obrigações não esperam: tem prazos exíguos, cujo cumprimento torna-se, não raro, mais importante que a própria tarefa em si.
Responda à seguinte pergunta: Quantas vezes neste mês você fez algo que te desse aquela sensação de se estar vivo? De satisfação plena? Aquele momento de absoluta sintonia com o mundo em que você olha pro céu e pensa: "Que bem que eu estou vivo"?
Você pode até rechaçar esta pergunta e rebater afirmando que talvez eu queria lançar o mundo ao mais completo devaneio hedonista, onde as pessoas não se preocuparão com o futuro e não estudarão ou trabalharão mais. Mas no fundo, no fundo, você sabe que não é disto que estou falando. E você neste exato momento pode fechar a página e parar de ler porque tem um prazo importantíssimo pra amanhã, mas penso eu que os prazos e as coisas inanimadas podem ficar pra depois. Mesmo que você morresse neste exato momento, o prazo não deixaria de existir e, inevitavelmente, seria feito posteriormente por outra pessoa. Só que as pessoas não podem ser deixadas pra amanhã.
"Pra morrer, basta estar vivo", diria meu irmão, na frase mais estupidamente óbvia e genial do século.
Acabamos nos importando tanto, com tantas coisas, que esquecemos de viver. E por esquecermos, vamos morrendo por dentro. E quando se vê já se morre por completo, deixando, como sobejo de personalidade, o espólio e algumas poucas lembranças.
Por isso faça aquilo que te mantém vivo, ou eventualmente você poderá se sentir morto antes mesmo de ter passado pelo véu de Ísis. Devemos estar preparados pois aqui há uma única obrigação a ser cumprida, cujo prazo pode ser tão exíguo quanto a tarefa mais rigorosa; nosso único encargo e, ao mesmo tempo, nossa única certeza: a morte.
Assim, que ela signifique a possibilidade de viver mais e melhor, de não deixar pessoas pra depois, amor pra depois, riso pra depois, e só assim não deixaremos a nossa própria vida pra depois, esse depois que pertence ao Universo, ao acaso, ao Deus, ao sobrenatural, ao que não se explica ou até ao sabe-lá-o-quê que nos colocou aqui.
Na vida, então, façamos como os gregos: deixemos os deuses com inveja.
Por isso que eu ti amo hj '-' e foda-se se ñ é recíproco, "ainda".
ResponderExcluirTexto perfeito ;D
ResponderExcluirOs deuses/anjos caídos têm inveja dagente porque cada um de nós temos a liberdade de sermos capazes de não seguirmos mais eles, de não adorarmos suas imagens, de não fazermos as suas vontades. Pois, o maior poder é aquele que vem da liberdade de aceitação e isso os deuses não tem domínio sobre nós, e portanto temos a liberdade de decidir não aceitar os deuses e sim de adorar apenas o Deus Espírito Criador de todas as coisas, para voltarmos a nossa condição de Anjos do SENHOR CRIADOR.(Elber Leão)
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